Natal de recomeçar

Decididamente, 2008 foi, no mínimo, atípico. A crise americana, apesar de anunciada há tempo, surpreendeu o mundo e causou um alvoroço cujas conseqüências estão longe de serem sentidas, ainda. Para nós, catarinenses, as imagens da catástrofe – a maior de nossa história – dançarão em nossas lembranças cada vez que um raio quiser embelezar a noite, e ficaremos corados de vergonha por tanto de errado que já fizemos (e continuaremos a fazer, insensatos que somos?).

Mas falemos de Natal, assunto do momento que se repete a cada ano com as mesmas mensagens e a mesma periferia de amor, caridade, bondade e companhia. Ausentes no restante do ano, parece, pelo bafafá feito agora. O fato de ser comemorado em dezembro não é coincidência alguma, como você sabe: a raiz é antiquíssima e tem a ver com a mais longa noite do ano no Hemisfério Norte, o solstício de inverno, que acontece no dia 22 de dezembro. Natal significa, portanto, nascer, nascer da escuridão, do frio, para um novo tempo da Natureza.

Nascer da escuridão para dias mais luminosos: milhares de famílias o fazem agora, esperando um novo Natal, por mais longínquo e inverossímil que pareça ou seja. E, para muitos, a comemoração aconteceu bastante antes: corações se abriram e, no anonimato da caridade e da solidariedade, minimizaram dores, acalentaram momentos de sorriso no meio da tragédia. A música natalina tocava através do barulho dos motores de helicópteros, barcos, caminhões. Papéis de presente eram pacotes plásticos, caixas, sacos com a dignidade trazida através de mantimentos, remédios, roupas. Não havia Papai Noel, mas legiões de anjos de vermelho, de verde, de cinza, de jeans, camisetas e capas de chuva improvisadas. Anjos, ao que sei, não dormem, por isso sei que são anjos todos os que ajudaram e ajudam a minimizar a dor de quem só não perdeu o amanhã. Mas anjos choram, como tantos soldados, oficiais, bombeiros e voluntários de toda espécie que não se envergonharam em chorar, sem nunca parar de trabalhar.

A lição tem sido dura demais, mas o amor que nasceu da escuridão, maior e mais luminoso. Talvez seja esse o verbo natalar. Ah! Se o conjugássemos sempre.