"Estratégia Para Levar Pra Cama" =Reminiscências=

Aos 32 anos de idade eu estava solteiro de novo depois de uns sete anos de casado e trabalhando em uma imobiliária localizada a três minutos a pé de minha casa. Isso depois de muitos anos vendendo livros e, já desquitado, ter sido dono de um bar-e-restaurante por algum tempo aqui em Santos.

Imobiliária de médio porte, éramos lá mais ou menos uns dez ou doze corretores, sendo a maioria do sexo feminino. Das seis ou sete mulheres, três eram bastante atraentes e desejáveis. Ou em uma única palavra: gostosas.

Em minhas divagações eróticas as três se revezavam ou compareciam juntas aos meus mais agradáveis sonhos e desejos.

Para complicar, todas as três, absolutamente diferentes entre si, faziam exatamente o meu tipo preferido: uma era mulata clarinha, de lindos dentes e sorriso maravilhoso; a outra era loura, mais para cheinha, de olhos negros e grandes, além de uma altura compatível com a minha; a terceira era muito branquinha, tinha olhos que pareciam apenas fendas, uma linda cabeleira negra e uma boquinha vermelha que era a pura tentação em forma de lábios.

Tendo aprendido desde muito cedo que para quase tudo na vida é preciso elaborar uma boa estratégia, quebrei a cabeça à procura de uma. Uma estratégia que, com muita calma e paciência me levasse a levá-las pra cama. Uma por uma, mas todas as três.

Foi difícil, mas finalmente consegui, e a seguir conto os passos que dei até meu objetivo final:

- percebi que teria que descobrir alguma coisa que as três gostassem muito, da mesma forma, com a mesma intensidade;

- o primeiro passo teria que ser no momento certo, no clima certo no ambiente certo;

- os passos seguintes seriam resultantes do primeiro, mas a essa altura já bem consciente do que teria que ser feito com relação a cada uma delas;

- não poderia haver pressa, precipitação, erros de comunicação, cantadas em horas impróprias ou, principalmente, na presença das outras duas. Cada uma delas deveria sentir que fora a escolhida, a única a interessar-me de verdade.

Elaborada mentalmente minha estratégia, parti sutilmente para o “ataque inicial”. No dia seguinte puxei assunto com as três ao mesmo tempo comentando um escândalo ocorrido na véspera e que envolvia um casal muito conhecido na alta roda da cidade. O resultado foi um comprido papo entre nós quatro.

Como o marido da envolvida no escândalo era dono de um famoso restaurante, não me foi difícil conduzir o assunto para comidas. Chegados todos a este assunto único, também me foi fácil perceber o que as três adoravam, o que as três adorariam comer à vontade sem pensar em conta a pagar: frutos do mar bem preparados. Frutos do mar...só de pensar minha boca fica cheia d’água...

- Já contei a vocês que minha especialidade maior em meu restaurante eram exatamente os frutos do mar? Aprendi a fazer de tudo e, modéstia à parte, bem feito pra valer.

- Jura?

- Jura?

- Jura?

- Juro por tudo que é mais sagrado. Meu cação ensopado com molho de camarão é de se comer ajoelhado e rezando em agradecimento. Mas gosto de fazer também, nestas ocasiões, um belo prato de mariscos ao vinagrete, uns bolinhos de bacalhau, camarão à minha moda...

- Ai meu Deus do céu!! Pare com esse assunto que eu já estou aguada...

- Um homem que cozinha...Era tudo que eu queria na vida...

- Ostra não vale...deixa a gente doida pra...

Começara a dar certo minha estratégia.

- Olha aqui, cambadinha, eu vou fazer um convite às três, mas escutem bem, muito bem mesmo: o convite é válido só-pa-ra-as-três, estão me entendendo? Vamos marcar um dia e hora pra vocês irem até minha casa e experimentarem o que sei fazer na cozinha. Mas tem que ser nesta semana.

- Porque?

- Porque minha mãe está viajando, a empregada está dispensada, e nós quatro poderemos ficar à vontade comendo e conversando.

Marcamos o dia, no meio da semana, e a hora, que seria no fim do dia, logo após o expediente normal da empresa.

No dia marcado para nossa ceia a quatro eu não fui trabalhar. Corri para o mercado dos peixes, lá na Ponta da Praia, escolhi rigorosamente o que queria preparar, gastei com satisfação uma boa grana, e ainda bem cedo comecei a pilotar o fogão.

Gente, dando um pontapé na bunda da modéstia, naquele dia eu cozinhei como um grand-chef de alta categoria! Preparei um cação em postas, mergulhado em um molho denso e complicado, cozinhei os mariscos e os misturei a um vinagrete elaborado, fiz uma travessa cheia de iscas de peixe à milanesa, fritei um monte de camarões da maneira correta, preparei um arroz bem solto, colorido, enfeitadão, arquitetei e executei uma salada que tinha até umas finas rodelas do melhor palmito encontrado, pus a mesa com tudo que havia de melhor na casa e, para completar, duas garrafas de um bom vinho bem de acordo com o cardápio. Enfim, gastei uma boa parte da comissão do apartamento que acabara de vender.

Quando as três chegaram não acreditaram no que viram: uma mesa linda e cheia de tudo que era bom. Chegaram a perguntar-me se eu havia encomendado aquilo tudo a um bom restaurante do bairro.

O jantar transcorreu tranqüilo, agradável, alegre pra valer, e tão absolutamente descontraído que ninguém, creio, poderia imaginar que por trás daquele investimento havia um “maquiavélico” plano elaborado por homem carente. Carente de levar as três para a cama...

Beijinhos respeitosos na despedida, agradecimentos sinceros a cada uma por ter vindo, promessas de novos jantares iguais a qualquer altura da vida, etc. e lá fiquei eu sozinho de novo. Mas a primeira parte transcorrera com todo o brilho planejado.

Convidada 1:

- Fernando, você cozinha como gente grande, meu amigo...Que maravilha de jantar!!

- Fiz tudo aquilo pensando apenas em te agradar, meu anjo. Você foi minha musa inspiradora ontem. Cada coisa que eu ia preparar me fazia pensar se você gostaria de verdade...Confesso que sofri de ansiedade pensando só em te agradar. Meu único objetivo era te fazer feliz.

Convidada 2:

- Quem te ensinou a cozinhar daquele jeito?

- Eu não sei cozinhar, mas a cada vez que pensava que você me daria a honra de comparecer, ia cozinhando e rezando pra acertar em tudo que fiz, minha querida. Gostou do jantarzinho?

Convidada 3:

- Pra mim você pode confessar: você comprou tudo pronto, não foi?

- Juro por Deus que não. Fiz cada coisa pensando em te agradar ao máximo. As outras duas eu convidei só pra despistar. Não queria que o pessoal da firma ficasse maliciando; né? Cada um tem seu jeito de expressar amor. O meu pra você foi te convidando pra jantar lá em casa. Um dia, quem sabe, jantaremos só nós dois à luz de velas...

Algum tempo depois eu já havia deixado uma boa grana motéis, mas em compensação já havia transado com as minhas três convidadas.

Estratégia é uma coisa muito importante, mas tem que ser bem elaborada e melhor ainda executada.

Quem foi o trouxa que disse às mulheres que “o homem se prende pelo estômago”? Quem disse isso não deve ter reparado que mulher come com muito mais prazer e volúpia que nós. Mas sempre procurando fingir que quase não come. Dê um bolo caprichado a uma delas, daqueles cheios de glacê, todo elaborado, com frutas em cima, e fique observando: de bicadinha em bicadinha...

-“Não sei porque engordo...Quase não como...”

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 22/12/2008
Reeditado em 23/12/2008
Código do texto: T1347845
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