Maldito oficio por Modesto C. Batista Neto

Um misto de bondade e respeito era visível no olhar sereno do meu amigo Ítalo Luan, ele estava na sala tomando um café enquanto me observava mandar um e-mail para a redação do jornal solicitando um período de um mês sem escrever a coluna semanal de crônicas.

Na verdade o cronista é um verdadeiro mágico, transfigurar o cotidiano em escritos com relevante brilho é algo difícil de fazer, especialmente quando o cotidiano começa a coroe o seio da singularidade da escrita.

Assim como os cronistas os romancistas, contistas, poetas e loucos da escrita também necessitam da mesma mágica e maestria nas palavras, para serem atrativos aos leitores exigentes desta contemporaneidade.

Sempre prezei por uma singularidade, não importa se é bom, regular ou ruim, pra mim tem que ser único, distinto, singular, eminente e com notável notoriedade no que diz respeito a ser uma “coisa” única, não é necessário ser conspícuo, egrégio ou elegante, precisa simplesmente ser diferente e capaz de marca os pensamentos dos leitores de forma inesquecível.

São poucos os que têm este dom mais que admirável, são poucos os que eu posso dizer que jamais esquecerei, são pouquíssimos.

O espanhol Carlos Ruiz foi um dos escritores que conseguiu a não celebre porem ilustríssima e anônima “Sociedade Secreta” dos que eu jamais esquecerei, ao lado do afegão Khaled Hosseini são alguns dos que eu admiro e tenho seus escritos como inesquecíveis e fascinantes.

Conseguir alcançar o nível deles é algo praticamente impossível pra mim, um pobre iniciante das letras e eterno aprendiz das palavras do sofrido e cansado coração do Rio Grande Norte. Sou apenas mais um jovem de uma cidadezinha única chamada Angicos.

Terminando de escrever as considerações finais para o redator do jornal, minha mente fez-me pensar e indagar o quanto era difícil ser um escritor independente, ainda mais quando se é um nordestino sem ao menos uma genialidade simplória.

Genialidade esta que mesmo pequena às vezes se nega a aparecer nas paginas que escrevo, e força-me a pulsar o pensamento de forma intransigente até que algo de interessante (mesmo simples como eu) apareça para completar meus singelos escritos.

Este oficio de escrever que não me alimenta e creio meio acomodado jamais alimentará é o que sacia a sede e a fome que meu espírito senti.

Oficio maldito para aqueles que buscam uma vida melhor, com mais finanças e grandes aquisições matérias, oficio maldito que força aos jovens escritores independentes a engolir a labuta do cotidiano da escrita e procurar um trabalho para se manterem.

Oficio maldito para muitos, porem ainda bendito para mim, que tenho o café para beber e a comida para engolir como diria Chico Buarque.

Levantando-me e desligando o computador viro-me de lado olhando para Luan e falo “Vamos embora”.

E deixando para mais tarde o exercício da escrita saio de casa com a certeza que voltarei para este maldito, talvez bendito oficio...