A mulher que ouvia o silêncio

A casa sempre era tranqüila de manhã. O canto do galo acordava todos que ainda estavam sonhando. À tarde se tornava barulhenta. O barulho na cidade invadia os corredores do apartamento mesmo morando no andar mais alto entre nuvens e aviões. Ali, a cidade se fazia pequena, apesar de grande.

A buzina dos carros, as conversas altas, as TVs ligadas, os som alto do carro do vizinho, os burburinhos e a desordem das pernas que caminhavam em direções opostas nas ruas.

Mas o primeiro dia do ano era o único dia em que ela não usufruía dessa rotina. Salvo os domingos à tarde em que a paz reinava na missa das cinco, dia de reza não tem barulho! Naquele dia era o primeiro do ano e ainda domingo. Ela tinha 33anos sem filhos, sem marido, sem ninguém. Poderia aproveitar este momento só, pois a cidade se escondia e nem um vulto passando pela rua ela via...

Aproveitou para ir a sua vasta biblioteca para ler um livro, trabalhou tanto para tê-los e só naquele dia teve a paz de lê-los. Fez um café ao silêncio do canto do passarinho, saiu na janela e foi olhar a rua tão mais bonita e calma, fazia um ano que não a via assim, poderia gritar que ninguém a escutaria. Não passava pela cabeça soltar um mínimo de som nesse dia,este em que ela podia escutar o silêncio. Tão esperado, como se espera o amor voltar.

Passou a tarde lendo. A noite chegou rapidamente e sem avisar, pois não quis atrapalhar a leitura da mulher. A lua nasceu e naquele dia ela pode vê- La surgir tão silenciosa e pálida como a neve. Só via a lua de ano em ano, dia em que podia apreciá-la, pequenas estrelas distantes e brilhantes de muitas pontas. A noite, em dias normais, era para dormir,em que seu refúgio eram de seis horas diárias. Passou a noite acordada vigiando o silêncio.

Viu o sol nascer e foi perfeito. O sol conseguia nascer de uma forma diferente todos os anos, e era incrivelmente encantador! Os últimos raios de sol anunciavam que o dia 2 surgiu mesmo tendo que voltar a velha rotina com exceção ao dia 1 de cada ano, mas ela tinha a certeza de que viveu 33 dias de sua vida...

DandaraOlive
Enviado por DandaraOlive em 28/12/2008
Reeditado em 20/06/2010
Código do texto: T1356418
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