Perdão

Estou triste com algo que temo. Meu temor me causa tristeza.

É um calculo mortal eficaz.

Eu sempre penso: “parece que agora as coisas ficarão ruins”. Mas não se trata de um acontecimento, trata-se do tempo, trata-se do inevitável.

Algo me ronda e não me deixa em paz. Não é o temor de que algo ruim irá ocorrer, mas é o de ocorrer algo ruim e saber que não dá para mudar. Saber que aquela palavra que um dia usei para ofender uma pessoa, ficará marcada para sempre em seu coração; e por mais que o tempo passe, a ferida nunca irá sarar.

São coisas que não se aprendem com o tempo. E que se foda a experiência, isso não serve para porra nenhum se você é completo idiota. É algo inevitável, que não percebemos no momento; enfim, aconteceu e nada irá mudar.

Quer algo mais assustador do que a morte de uma pessoa que você tanto gosta; saber que nunca mais irá revê-la, nunca irá conversar novamente com ela. O quanto assustador é saber que nunca mais você irá rever o sorriso ou lágrimas daquela pessoa.

Há 2 pontos colocados em questão: o primeiro é das ações e palavras que machucam e cujo estrago não pode ser revertido; a segunda é entender que só se valoriza quando se perde, que o estrago feito nada se compara com a perda do “estragado”.

Minha vida sempre no dilema, sempre em 2 polos. Como eu amo minha namorada, mas como eu odeio a feridas construídas. Eu queria falar para ela esquecer tudo aquilo que falei, e pensar que daqui pra frente só será encanto e ternura. Mas não dá, uma vez feito, está feito e pronto. Guardado no coração da pessoa para nunca mais de lá sair.

Então é isso, um estrago feito, já está feito. Nem desculpas mudaram algo.

Mas que engraçado, em minha ida semanal ao funeral de uma pessoa, estava lá uma mulher que chorando disse: “se eu soubesse que iria morrer, te perdoaria e começaria outra vez”. Foi quando me veio à idéia de entender o perdão.

O perdão só existe quando se morre, mas não pelo drama, e sim pela vergonha da pessoa que não perdoa.

Se um dia minha namorada me perdoar, será por que eu morri.

Mas não vem chorar no meu tumulo não, não quero ninguém manchando a madeira do meu caixão. Não quero crianças. Não quero desconhecidos.

Não quero ninguém que não me devia perdão. Quero todos aqueles que não me perdoaram no meu enterro, serão enterrados comigo, serão mortos por mim! Suas magoas ficarão para sempre em seus corações; e a cada vez que eles resgatarem as tristezas, lá estará eu, o “não perdoado”, o “o que ficou faltando ante de morrer”, o “se Deus existir, fala pra ele que eu perdôo.”

Não, não coloca Deus para justificar seus erros, muito menos as merdas da vida.

Só escrevi isso por que eu devia um perdão, devo perdão a muita gente. Vou continuar devendo.

Uma pessoa morreu e eu não pedi perdão, não perdoei nem fui perdoado.

A vida tem seus exageros; mas minha vida é exagerar demais.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 29/12/2008
Reeditado em 31/12/2008
Código do texto: T1357291