O GRANDE RUBENS

Escola pública do interior do Tocantins, lá estuda o aluno Rubens, ou melhor, o Grande Rubens, nível fundamental, mais especificamente no 7º ano “B”. Este é um aluno que contraria aquela lei “do menino imperativo” da pedagogia. Aquela que pedagogos e psicólogos enchem a boca ao falarem quando percebem que o aluno é imperativo. A palavra da moda. Aliás, o Grande Rubens parece estar sempre no mundo da lua, estudando o abstrato, menos o conteúdo dado em sala. A aula pode até ser interessante, mas suas passadas são lentas. Parece carregar uma carga genética de lentidão, está sempre dizendo: oh professor! Não professor! Deixa-me embora, professor... Esse é o Grande Rubens, sempre dizendo que vai deixar comida na roça pro seu pai e gostaria de sair mais cedo.

O Grande Rubens é diferente de todos os alunos da escola. Ao entrar na sala, põem sua cadeira próxima à porta e tira suas sandálias dos pés e os estira na entrada da sala. Dificilmente deixa seu trono, mas quando resolve levantar, sai arrastando os pés, atrapalhando os colegas e dando passos curtos e vagarosos.

Seus trabalhos são repletos de borrões e usa, preferencialmente, caneta vermelha, talvez para destacar dos outros ou mesmo fazer confusão com as possíveis respostas. Os seus professores procuram nas entrelinhas dos seus rabiscos algo que se pareça com a resposta.

Esse é o Grande Rubens, hora ou outra, dá uma olhada pra fora da sala buscando algo que o distraia. Um moreno forte de 14 anos que parece andar sem destino, seu desanimo o faz repetir sempre a mesma frase: “eu não consigo fazer o dever de casa”. Ele dificilmente tenta resolver seus problemas.

E não adianta falar-lhes da forma que Raul Seixas pregava em suas canções, como aquela que nos diz, “veja, não pense que a canção estar perdida, tenha fé em Deus tenha fé na vida, TENTE OUTRA VEZ”, ele jamais tenta.

Na hora da brincadeira, se for daquelas em que se usa a força, os colegas saem em desvantagem, se o negócio for futebol, a realidade se inverte. Neste momento Rubens fica sentado ou passeando pelo pátio procurando algo de errado pra dar conta.

Os professores é que sofrem na mão do Grande Rubens tentando mostrar-lhes um novo horizonte. Na hora da prova, a sua primeira pergunta é instigadora e quase sempre a mesma: “professor é de marcar?”. Sendo “de marcar”, resolve tudo rapidinho, não sendo, só assina o nome e faz aquela brincadeira do “mamãe mandou eu marcar essa daqui” e pronto.

Esse é o grande Rubens, o marcha lenta...