PRÍNCIPES OU SAPOS?

Remexendo no baú da infância e adolescência, pus-me a rever antigas histórias de contos de fadas.

Recordei-me como os sonhos de encontrar o belo príncipe em seu cavalo branco, galopando por entre as florestas em direçâo à princesa que estava envenenada, em coma, sofrendo ultrajes da madrasta ou subjugada por maldições de bruxas. A missão do príncipe era salvá-la com seu beijo encantador que quebrava os maus encantos e feitiços.

A princesa e donzela, sempre vítima do mundo e da maldade, ficava inerte à espera das duas ajudas miraculosas que viriam a seu encontro, resgatando-a do sofrimento: o príncipe e a fada madrinha, com sua bondade incomum e sua mágica varinha de condão, capaz de realizar grandes proezas.

Porém nos dias atuais, os príncipes cavalheiros, e as princesas donzelas, foram tomando nova forma, embora estejam embutidos de forma subliminar no imaginário e inconsciente adulto.

Os príncipes não vem de alazão, nem são milionários e vivem em função da espera daquela que será sua única amada, a dona de sua vida e de seu acalento.

Eles estão muitas vezes de chinelo de dedo, andando a pé, "alguns até tirando um cochilo no meio do caminho", roupa surrada ou bem vestidos, no supermercado, na balada, feira, Igreja, padaria, casa de amigos, trabalho, numa trombada caminhando na rua, em chats, convenções, barzinhos, msn, retiros, orkuts, enfim, a questão é que os príncipes pós-modernos se encontram muitas vezes disfarçados em forma de sapos e ocorre também de terem sapos disfarçados de príncipes.

Os príncipes não aparecem por encanto da forma pasteurizada e tradicional dos livros, nem num estalar de dedos, ou numa lâmparina mágica, nem ao toque da varinha de condão.

As princesas também por sua vez passaram por grandes modificações. Não são muitas vezes as musas idealizadas, prendadas, rica em beleza externa e passividade, mas são impérfeitas e limitadas.

Cabe porém a nós, pobres mortais, que estamos no mundo real e fora dos livros clássicos de contos de fadas, segurarmos com precisão a "lupa da sensibilidade" e percebermos o sapo-príncipe e o príncipe-sapo ou ainda a sapa-princesa e a princesa-sapa, que esbarra conosco nas florestas e veredas da realidade cotidiana e não apenas sermos resgatadas pelo suave e promissor beijo, mas resgatar este outro complementar e renascer mutuamente por meio deste sublime selo de amor.

(29/12/2008) Caputira

Ana Lú Portes
Enviado por Ana Lú Portes em 29/12/2008
Reeditado em 30/12/2008
Código do texto: T1357823
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