Livra-nos do mal

O mal, o medo do mal, a insegurança, o pavor do desconhecido, o mistério, têm sido grandes estímulos para que as pessoas procurarem as religiões atrás de abrigo e proteção. Paradoxalmente, muitas religiões se tornam as produtoras dessas sensações, até mesmo por uma questão de sobrevivência, produzem a doença e vendem a cura, num circulo vicioso mercantilista infernal.

Jesus, na oração modelo, destinada aos discípulos, conhecida como o “Pai nosso”, ensina-nos a pedir que o Senhor nos livre do mal. A grande maioria das pessoas, com quem já conversei sobre o assunto, entende que esse “mal” que Jesus está instruindo para pedirmos livramento é invasivo, isto é, ele ocorre de fora para dentro de nós, como se fosse algo que existisse do lado externo da nossa vida e que, súbita e indesejavelmente, pudesse nos sobrevir. E pode. Entretanto, eu entendo que não é esse tipo de mal que o Mestre está se referindo. Acho que seja uma interpretação mais adequada aceitar que Ele fala da malignidade que está dentro de nós. É a capacidade humana de fazer maldades, sem mesmo necessitar da ajuda do diabo. Veja em Mateus 6:13 a Bíblia diz: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal". Ligando o mal à questão da tentação, citada anteriormente neste versículo, vejo que isso remete às demandas do coração, aos conflitos interiores, às concupiscências e não aos eventos de contingência que podem incidir sobre nossas vidas. Acho que esse é o grande mal – o interior – que devemos estar preocupados, pois é isso que nos descaracteriza o imago dei, é isso que nos leva para longe da vontade de Deus. É da tentação desse mal, acredito, que devemos pedir livramento a Deus em nossas mais fervorosas orações.

Buscar a Deus, sua comunhão e graça é a busca do livramento do mal interior que quer assumir o controle na hora de fazer escolhas. Buscar religiosidade é a tentativa inútil de querer viver livre do mal circunstancial, das intempéries, das adversidades.

Ter a capacidade e a liberdade de optar por fazer o mal em contrapartida com a mesma capacidade e liberdade de optar em fazer o bem, faz de nós, seres humanos, as criaturas mais complexas do universo, produtoras de conceitos, moralidade, ética e juízo. O que, naturalmente, valora nossas atitudes, comportamentos e escolhas. Temos o mal e o bem dentro de nós, escolhamos pois o bem.

Sejamos àquelas pessoas que buscam o bem, perdoando a quem nos ofendeu e pedindo ao Pai nosso que nos livre da tentação do mal. É a minha oração de 2009 em diante.

Feliz ano novo.