POR QUE NÃO???

Há dois tipos de coisas que a gente não esquece – ou pelo menos acaba sempre lembrando de tempos em tempos – as muito boas e as definitivamente absurdas. Volta e meia me vem à cabeça uma maluca que apareceu no Jô dizendo que não comia sabe-lá-deus desde quando e vivia de luz, não posso evitar a perguta se a dita-cuja ainda está viva. Hoje, n’um acesso de tédio, fui fuçar na net, jura que o salário-mínimo é quatrocentos e quinze reais??? Só vivendo de luz mesmo, e luz natural, que, como diria papai, bom brasileiro, nos meus longos banhos de adolescência, “eu n’um sô sócio da ‘Light’!” – Acho que vou ter que rever meu conceito de “maluquice”.

T’aí, resolução de ano novo – versão 2009: Rever conceitos. Experimentalismo nunca me foi problema, então vamos lá, giro de cento-e-oitenta graus na minha tabelinha de verdades decretadas e certezas absolutas, ainda que por amor ao debate, ou só por falta do que fazer mesmo.

De repente, talvez, maluquice seja acreditar em impossibilidades, limites intransponíveis, seguro de vida, investimentos ultra-seguros e previsão do tempo (previsão metereológica de mãe não conta, essas são infalíveis mesmo, leve o guarda-chuva e nem perca tempo argumentando que ‘tá o maior solão lá fora. Vai chover. – As mães controlam o tempo, sabia não????).

Talvez, apenas talvez, esperança tenha menos a ver com a parte verde e grandona da bandeira e mais a ver com gente que trabalha o dia inteiro por um salário de merda e ainda assim, decide colocar um outro serzinho nesse mundo, aí tem que arrumar outro (segundo) emprego e, adicionados os dois salários, continuando com uma receita ridícula, acredita que com isso, feijão, escola pública e amor, dito serzinho um dia vai acabar virando um adulto decente, com um nome honrado, com “Júnior” no fim e,já que sonhar não paga imposto, quem sabe até um “Dr.” na frente.

Talvez, ainda, os milhares de imigrantes espalhados pelo mundo (incluindo aqueles já finados que construíram, d’entre outros, nosso País), sem esquecerem suas culturas, línguas, entes queridos e orgulhosos de suas origens, saibam muito mais sobre amor à Pátria, do que tantos outros, fardados ou não, que hoje, desqueridos, aportam em terras estranhas dispostos a matar ou morrer, ou, melhor dizendo, estatisticamente provavelmente ambos, só prá aumentar o valor das ações da família Bush em companhias de petróleo, digo (ooops!), em nome da Democracia, ou, n’um cenário mais “canarinho”, gente que suborna, gente que se deixa subornar, gente que vota por mais vereadores e menos recursos para a saúde pública, gente que compra e vende rim, criança, sentença e, no final das contas, a Pátria-Mãe, digo, a própria mãe (oops again!), gente que renuncia pra não ser cassado e volta na eleição seguinte com cara de santo, e (por que não?) gente que diz que governa mas nunca sabia de nada quando a maracutaia dá zebra no próprio quintal.

Quem sabe, amor romântico tenha muito mais a ver com atos de lealdade que com votos de fidelidade, ou mesmo a tal da fidelidade em si (Oh! Conceitinho besta!), com verdades desagradáveis ditas (ou ouvidas) de-cara-limpa e olho-no-olho que com juras de amor do tipo “um amor e uma cabana”, “só tenho olhos prá você” (dá licença, desde quando olho tem cerca?) ou aquela penca de “eu te amo também, me passa o controle remoto” que todo mundo já disse um dia na vida (sabendo ou não que a próclise é totalmente descabida), com o coração no piloto-automático.

E talvez, apenas talvez, quem sabe, de repente, maybe, perhaps, vai saber, quizás, quizás, quizás... não seja assim uma idéia tão má começar o tal “ano novo/vida nova” com uma meia-dúzia de conceitinhos novos também, só prá variar... Eu vou experimentar, afinal, o que não mata, engorda (humpf!), e o que mata, bom, pelo menos parece que, a médio/longo prazo, não engorda (ufff!). E você?

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 31/12/2008
Reeditado em 31/12/2008
Código do texto: T1360576