Vida Poética
Alegria há na vida quando ela é duas. Uma dor solitária dói mais porque é só e sente-se única no mundo. Um coração que bate por alguém e só apanha é mais sofredor que calejado, porque coração autêntico não aprende os ensinamentos da razão.
Portanto aquela era uma vida sem alegria, que se cria única no mundo e sofredora.
Poética, então.
Mas uma vida poética não serve para muito, além de tornar-se poesia. Não é de ser vivida, já é uma quase morte abafada em lágrimas. Sobrevive à custa de pequenas doses de carinho imaginário, aquele alimento necessário para que ela permaneça dor.
E toda esta poesia está sujeita a dois diferentes fins: ser eternizada como tal, garantindo ao seu portador uma vida miserável e romântica, ou ser assassinada por uma segunda vida, feliz por natureza, que chega sorrateira e domina o sentimento, transformando-a em duas, e portanto alegre, indolor, companheira e não mais sofredora.