UM SEGUNDO !
UM SEGUNDO!!
O Tempo é algo de sagrado e sendo-o é mais que crime é sacrilégio, tocar num só cabelo, um só segundo, dessa divindade Kronica, se não por mão de sacerdotes consagrados.
Mas os cientistas, ateus, atrevidos, loucos e desgrenhados, perseguem-no fanáticos na busca de alcançar a toca olímpica onde foi criado.
Na ânsia de mantê-lo, manietado, controlado, vigiado, criaram instrumentos delicados e ergueram arquiteturas colossais.
Asim se edificaram zigurats,pirâmides, antas, menires e se criaram ampulhetas, e mostradores do caminhar do Tempo projectado em sombra de ponteiros verticais, ponteiros mecânicos apontando números, números apenas digitais, satélites, telescópios, radares e túneis onde aceleram partículas incríveis em busca desse Tempo perdido no Além.
Aonde e quando?
Se ao menos soubessem onde, uma boa equação e um cálculo fiel dariam a outra incógnita do nascimento.
Mas o tempo tudo subverte. Arrasa monumentos, teorias e equações dos mais elevados graus, e permanece palco onde a peça da vida brilha, decorre e morre absorvida pelo fim sem fim.
Há no entanto quem ache a incógnita sem esforço, erguendo simplesmente os olhos a um céu estrelado ou de mãos postas na adoração do Menino Deus, princípio do Tempo, Nascimento, a Era achada só e apenas pela Fé.
Este segundo científico duplicado este ano é subtil interferência dos astronomos na vida que é corrente e indiferente ao movimento cósmico e astral, e no entanto sinto uma leve inquietude delicada como pena em cócega, e fina como agulha penetrando da razão ao coração a angústia do segundo que há também entre mim e o Mundo.