A GRANDEZA DE UMA ALMA PREOCUPADA COM A VIDA

Em uma Chácara próxima ao Bairro Jambeiro, em Campinas, onde produzimos os “TIJOLOS ECOLÓGICOS”, tínhamos três cadelas mestiças da raça LABRADOR, sendo mãe e duas filhas.

Uma das filhas, que tem o nome de Preta (por ser inteiramente pretinha) teve nove filhotes e, com treze dias de nascidos os seus filhos, sofreu um acidente e, atropelada por um carro na rua, morreu.

Para que os cachorrinhos órfãos não ficassem desamparados, meu filho levou-os para casa para serem tratados e cuidados, para que vivessem normalmente.

Às pressas, fiz uma casinha de madeira para eles e os coloquei na laje superior que serve de quintal e fica sobre uma Oficina de marcenaria.

Minha esposa Anna assumiu as tarefas próprias da mãe dos cachorrinhos órfãos e tudo corria normalmente e a contento. No dia 04/01/2009, às 7,30 da manhã, domingo, dia cinzento com chuviscos intermitentes e continuados, acordei assustado. Uma voz com tom de dor e expressão de desespero, ressoou angustiada: “Meu Deus do Céu...”

Aquela voz eu conhecia muito e era a de minha esposa Anna.

Acordado assim de sobressalto e sem saber o que realmente estava acontecendo, perguntei em voz alta: Que aconteceu?

- Dois cachorrinhos caíram da laje, de uma altura de quase quatro metros e estão estatelados lá no chão. Imediatamente levantei e me apressei para observar o ocorrido e tentar ajudar naquilo que me fosse possível.

Desolador e emocionante o quadro seguinte. No corredor cimentado que margeia a casa estavam os dois cachorrinhos imóveis e colados ao chão, sem sinais de vida e com todos os sintomas aparentes de morte. Em desespero, Anna corria em socorro daqueles inocentes infelizes que, na sua ingenuidade de poucos dias nascidos e em busca da liberdade e de conhecer os meandros da vida, tinham vazados por um buraco da mureta e se despencaram até o chão, numa altura de quase quatro metros. A Doly (cachorra criada por nós e que e nos acompanha por mais de dez anos) tinha se aproximado e olhava, sem entender e sem tocar nas vitimas daquela tragédia.

Minha esposa aproximou-se, desesperada e com o coração aos pulos, pensando estivessem mortos, tomou nos braços aconchegantes aqueles corpinhos inocentes e imóveis, vitimas das suas próprias inexperiências e com imenso carinho e dedicação colocou-os em uma caixa de papelão previamente forrada com panos velhos, para manter o calor ainda existente naqueles corpinhos imóveis mas ainda quentes.

Em seguida, ainda sob a emoção dolorosa daqueles últimos instantes a pouco vividos, foi cuidar dos outros quatros irmãozinhos que, famintos e espalhados pela laje, cobravam, aos gritos de fome, a sua refeição matinal. Com muita pressa, mas com todo o amor de quem ama toda a vida que floresça sobre a terra, serviu aquele leitinho no pires e aquela “papa” feita com leite e pão migado que eles tão bem conheciam e comiam desesperadamente.

Atendida aquela necessidade primária daqueles cãezinhos famintos, foi ver como estavam os que haviam se acidentados. No fundo da caixa de papelão estavam ambos gritando, (de dor ou de fome?) mas já com movimentos que indicavam estarem vivos. Alegre pelos sinais de vida dos animaizinhos, mas aturdida ainda e sem saber como socorrê-los, deu 10 gotas do analgésico “dorona” para aliviar possíveis dores causadas pela queda. Os pacientes tomaram as gotas e beberam o leite que lhes fora oferecido com amor e carinho e se acalmaram, dormindo em seguida, aquecidos pelos panos velhos que os cobriam.

Depois de algum tempo, a enfermeira improvisada e agora mais mãe que nunca, foi ver como passavam seus pequeninos pacientes. Lá estavam eles, mais calmos e andando pelo chão. O “pretinho” parecia mais à vontade e passeando não demonstrava ter sofrido qualquer anomalia no seu corpo. Mas o “amarelinho” também caminhava, mas com certa dificuldade. Sem “chorar”, vez por outra caía e se levantava, dando mostras de que o tombo o abalara de alguma maneira.

Zelosa e preocupada a enfermeira e agora mãe extremosa, dizia-me: será que o “amarelinho” quebrou algum osso e por isso perde tanto o equilíbrio? Será que sobreviverá sem seqüelas ou morrerá em conseqüência da queda?

- A resposta virá com o tempo e nada podemos fazer agora a não ser esperar e observar... — era o que podia responder naquele momento.

Narciso de Oliveira
Enviado por Narciso de Oliveira em 04/01/2009
Reeditado em 17/08/2010
Código do texto: T1367404