FELIZ ANO NOVO

Houve um tempo em que as pessoas demonstravam carinho com mais espontaneidade.A troca de correspondência era mais minuciosa , mais assídua e feita através de cartas que, muitas vezes, se iniciavam com expressões como “assim como os passarinhos pulam de galho em galho, eu te escrevo essa amável cartinha enviando as minhas notícias e, ao mesmo tempo, esperando obter as tuas...”.Tempo já tão distante!

Que interessante! Pergunto-me qual a relação entre os passarinhos pulando de galho em galho com o ato de escrever uma carta? Parece-me que nenhuma. Entretanto, o citar de um fato da natureza demonstrava a poesia que impregnava as correspondências e a pureza em não esconder os sentimentos cultivados como jóias de valor. Mas eram tão difíceis os meios usados para que as cartas chegassem ao destinatário! Mandava-se um positivo (pessoa de inteira confiança que ia pessoalmente entregar a correspondência) geralmente a pé ou a cavalo. Não me reporto aqui à época anterior ao século XX, mas à primeira metade deste, principalmente em locais distantes dos grandes centros e quando ainda não existia o serviço dos Correios.

Com tanta dificuldade e demora como se poderia querer receber as notícias do destinatário “ao mesmo tempo” em que o remetente enviava as suas? Nem através do moderno e-mail isso é possível.

Os Correios iniciaram seu serviço, porém a demora ainda era longa para a correspondência chegar ao seu destino ( se hoje ainda acontece isso, imagine àquela época...).Ainda assim as pessoas escreviam e respondiam suas correspondências, educadamente, respeitando as regras da etiqueta e, o que é mais importante, com sinceros sentimentos de amizade e amor.

Houve um tempo em que não se tinha vergonha de demonstrar os sentimentos puros e falar das recordações não era considerado “saudosismo”. Os clãs eram realmente ligados com elos que não se quebravam facilmente pela mistura de laços vindos de outras famílias ou pela ganância gerada na expectativa das heranças materiais. Isso é belo.

Houve um tempo, que me parece já tão distante,em que os membros das famílias enviavam e respondiam cartões de Natal e de Boas Festas.Hoje pouca gente faz isso . Muitas vezes não têm nem a gentileza de responder os que recebem.Sei que você, eventual leitor, vai argumentar que estamos em nova época, onde não há tempo para isso, mas peço licença para não concordar com você. Encontra-se tempo hoje (na maioria das vezes) apenas quando as questões dizem respeito aos nossos interesses, principalmente se forem financeiros. Hoje, com os modernos meios de comunicação( que têm a internet como carro-chefe ) é, incomparavelmente, mais fácil para se trocar correspondência. Há lindos e interessantes cartões virtuais. É verdade que o poder aquisitivo de nosso povo nem sempre permite o uso da internet, mas é raro não se ter telefone em casa.Ainda assim muita gente continua distante da demonstração de amor tão cantada na época de fim de ano e não exercita nem a gentileza de responder aos “Votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo”. Não é falta de tempo; é falta de educação, é desrespeito, é ausência de sentimentos. Há falta até de colaboração com instituições como a UNICEF, a APAE e outras que põem em circulação cartões criados pelas crianças para que a renda pela vendagem seja um instrumento que contribua para dar suporte à infância carente. Até mesmo os Correios têm disponível, em grande estoque, seus cartões próprios vendidos por uma bagatela e que não cobram o serviço de postagem.

Portanto, ressuscitemos o amor, o carinho, a educação e o respeito.Enviemos ou, pelo menos, tenhamos atenção para responder nossas correspondências nem que seja no fim de ano ou início de outro.Usemos o meio que nos for mais adequado mas não deixemos morrer coisa de vital importância ao ser humano como os laços de família, de amizade ou de amor. Feliz Ano Novo!

Nadir Xavier de Andrade

Nadir de Andrade
Enviado por Nadir de Andrade em 06/01/2009
Código do texto: T1369815