Nós e o Big Brother

Agora virou moda, o ano começa e temos que suportar a chatice e a tolice do Big Brother, claro que o programa tem bastante audiência, afinal tem gosto pra tudo. De janeiro a março ouço no elevador, no supermercado, na barbearia ou em qualquer lugar, acaloradas discussões sobre a sinceridade do "alemão", sobre falsidade da entregadora de fruta que quer ser atriz, ou outra bobagem qualquer de tantos outros personagens estapafúrdios do programa. Tudo é planejado em função da audiência, mas tem gente que acredita que o mais “sssperto” vai vencer. Mas isso não vem ao caso, estamos numa democracia e cada um vê o que quer na tv e eu não tenho autoridade moral ou intelectual para julgar ninguém, além disso temos a opção de outros canais.

Em 1948, quando George Orwell (que na verdade se chamava Eric Arthur Blair) escreveu o romance 1984, (ele trocou 48 por 84 por exigência dos seus editores) mesmo sendo dono de uma capacidade fantástica de projetar o futuro, não imaginou que o termo BIG BROTHER (era o nome de um fictício partido totalitário de vigiava todos os cidadãos e até mesmo autoridades através da teletela), ia se tornar um dos programas de tv de maior sucesso em todo o mundo. No tempo em que Orwell escreveu o romance a tv estava começando a se popularizar, mas o escritor ia além, na sua ficção havia a teletela (que era um televisor e câmera ao mesmo tempo), que permitia que o Grande Irmão (Big Brother) fosse onipresente na vida do cidadão vigiado 24 horas por dia.

Se pensarmos bem, hoje não estamos muito longe disso, existem câmeras em todos os cantos de uma cidade, ninguém está livre de ser observado nas ruas, nas lojas, nas repartições públicas e até mesmo no prédio onde mora, tudo em nome da segurança. Perdemos privacidade para ganharmos segurança. Ganhamos?

O que espanta é ver o que programa Big Brother é assistido por milhões de pessoas que se divertem vendo as “sacanagens do alemão”, as cantorias desafinadas de uma mulher de seios avantajados a choradeira de uma outra de bunda empinada e não enxergam o que acontece dentro de sua própria casa, na sua rua, no seu bairro, no seu país, ou pior ainda; no seu interior. A força do elemento “circo” se sobrepõe a da necessidade “pão”.

Para quem gosta dos programas tipo “reality show” sugiro que vejam as tvs públicas lá de Brasília, onde se pode assistir o Garibaldi apoiando a criação de mais de 7300 cargos de novos vereadores, ou uma das sessões de CPI onde quem está no “paredão” nunca é eliminado, não é obrigado a responder às perguntas e o prêmio é sempre muito maior do que o do programa Big Brother.

Para finalizar repito a frase dita pelo personagem Winston Smith (um dos líderes do partido Big Brother) ao cair na real e se conscientizar que ele também estava sendo vigiado: Abaixo o Big Brother.

Laerte Russini
Enviado por Laerte Russini em 06/01/2009
Reeditado em 09/07/2010
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