O FRIO NA BARRIGA.

O FRIO NA BARRIGA.

Meu filho, Fernando, tinha três anos e ganhou uma bicicleta de uma prima que já havia crescido e não a usava mais.

A bicicleta estava em bom estado, mas não tinha as rodinhas de tráz, que dão apoio a quem ainda não sabe andar direito.

Fomos até a Mesbla, na rua 24 de Maio, comprar as rodinhas. Eu e o Fernando.

Mesbla. sábado à tarde, 3° andar, secção das bicicletas.Achamos as rodinhas. Procuro um vendedor para me explicar como colocá-las.Enquanto o vendedor me orienta, outro atende uma moça que está com uma menina, mais ou menos da mesma idade do Fernando.

E, Fernando e a menina começam a conversar.Isso, a mais ou menos uns três ou quatro metros de onde eu estava.

Vendedor explica, eu pergunto, abaixa, levanta, olho outras bicicletas para ver como colocar as rodinhas...

Minutos se passam e já com a certeza de saber que estava comprando o que eu precisava, olho e não vejo mais o Fernando, a moça, a menina e o vendedor.

Senti um frio na barriga.

O salão era enorme, em forma circular, com colunas obstruindo uma visão total.

Falo para o vendedor que estava me atendendo:

- Meu filho, que estava aqui, agora, sumiu.

Saimos os dois procurando.

Um pouco mais adiante, vejo o vendedor que estava atendendo a moça e a menina e pergunto, sobre o meu filho.

-Foram para lá, os três e aponta o caminho do elevador.

O frio na barriga aumenta.

O rapaz que estava me atendendo resolve ir pelo caminho da direita, outro vendedor pelo centro e eu pela esquerda.

Quando estou na metade do percurso, vejo o Fernando, com uma cara amarrada, vindo para o local das bicicletas, acompanhado por um segurança que quer pegar em sua mão e ele não deixa.

Apresso o passo, Fernando também e eu me abaixo para abraçá-lo.

O segurança sorri:

-Ele chegou até a porta do elevador junto com uma moça e uma menina, lourinha.As duas entraram e ele ficou. Achei estranho e como vi que ele estava meio perdido perrguntei se estava sozinho.

-Não.

-Com quem você está?

-Com meu pai.

-E onde está o seu pai?

-Nas bicicletas.

-Então, vamos procurá-lo.

-Quis pegar na mão dele e ele não deixou. Esperto esse menino.

Agradeci o rapaz.

Peguei as rodinhas, paguei e vim abraçando o Fernando no caminho até em casa. Fazendo-o repetir, incansavelmente: endereço de casa, telefone, nome do pai, da mãe.

Frio na barriga igual aquele nunca senti.