Eu vou fazer você!

Por formação, acredito muito em educação. Creio que é possível educar as as pessoas. Acato a ideia de que numa sociedade em que as pessoas sejam educadas tudo acontece da melhor forma. Afinal, é praticando a educação que respeitamos a nós mesmos e aos outros. O respeito é chave de uma boa convivência. É o que nos impele a reconhecer nossos limites, a tolerar as invasões bárbaras ou, pelo menos, lidar com elas de maneira mais inteligente e menos agressiva. É a educação associada ao respeito que nos coloca em condições de aceitar regras, leis e as pessoas que zelarão pelo cumprimento delas.

As pessoas que zelam ou deveriam zelar por isso, são os chamados agentes da autoridade. Por serem agentes da autoridade conhecem ou deveriam conhecer melhor as Leis e os procedimentos. Deveriam praticar seus atos estritamente dentro das Leis e regras das quais são guardiães.

Deveriam...

Não que essa seja a rotina, felizmente. O fato é que como Agente de Trânsito tenho deparado com situações um tanto deprimentes. Muitíssimo deprimentes pois refletem a sociedade em que vivemos. Mostra a falta de educação, moral e caráter de que todos somos vítimas. E isso acontece em muito maior grau comigo, pois procuro exercer a minha profissão de maneira limpa. Não sou um caçador de infratores, muito menos um punidor radical. Mostro-me à comunidade à qual sirvo. Durante uma fiscalização, antes de autuar, aciono a sirene, desço da viatura e apito. Se o condutor chega, explico a ele que está cometendo uma infração. Peço que corrija a situação e não o autuo, pois já haveria feito o melhor: teria educado.

O problema é que muitos desses cidadãos não querem ou não gostam de receber educação. São extremamente grossos. Não reconhecem no Agente de Trânsito um profissional. Tratam o servidor público com desdém. Desacatam.

Numa tarde, fiscalizando uma avenida, a certa altura, aconteceram fatos ainda mais lastimáveis. Num espaço de quinze metros de passeio, encontrei diversos veículos estacionados nessa área destinada ao pedestre. Três deles eram de “colegas”. Um Delegado de Polícia, desculpou-se dizendo que estava a fazer uma boa ação, pois trazia uma velhinha ao banco. Um Oficial de Justiça, que estava a berber cerveja com uma bela morena, pediu para não autuá-lo pois tiraria o carro imediatamente. Ambos se identificaram sem que eu exigisse tal procedimento.

Um Policial Civil que estava assistindo a tudo, encostado ao seu veículo que estava sobre o passeio, esperou até que eu pedisse para retirá-lo dali. Ele disse que eu não iria multá-lo, pois ele era autoridade. Eu disse que teria de autuá-lo, pois sou Agente de Trânsito. Depois de ouvir isso ele saiu. Não sem antes esbravejar:

- “ Eu vou fazer você!" (sic)