Sabão Preto

Quando crianças, na hora do banho usávamos sabão preto de fabricação própria! Para nos persuadir, ou consolar, nossa mãe dizia que ele era bom para a pele, porque não entrava soda como ingrediente e sim dicuada. Sabonete era só para nossos irmãozinhos recém-nascidos. A gente achava aquilo um luxo!

E o uso do sabão preto foi dando certo até que um dia...

Lá em casa chegaram uns priminhos muito encapetados. A mãe ficava sossegadamente de prosa com meus pais e nós vigiando aqueles meninos endiabrados que não davam folga: corriam atrás das galinhas, puxavam o rabo dos gatos, pisavam nas hortaliças. Era um deus-nos-acuda. Não víamos a hora que eles fossem embora. E assim que se foram, Edwirges, nossa irmã caçula das mulheres, correu para o banheiro. Queria ser a primeira a descansar com um gostoso banho de chuveiro.

Mas daí a pouco, escutamos uns gritos e pensamos que ela tivesse tomado um choque elétrico. Qual nada! Ela havia passado a bucha vegetal no sabão preto, que já estava amolecido na saboneteira, e quando esfregou-a no corpo, nada de espuma. Pelo contrário, veio um mau cheiro que ela logo constatou ser de cocô mesmo! Ela nunca perdoou aqueles meninos arteiros, que fizeram tal maldade. E eles também nunca mais nos visitaram.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 12/04/2006
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