VOCÊ PODE SER O QUE QUISER

(Sócrates Di Lima)

A velhice me apavora nos meus áureos trinta anos.

A idéia da velhice me atordoa, mesmo sabendo que o corpo pode envelhecer, mas, a alma não.

Os meus cabelos brancos sinalizam que ás portas do tempo foram abertas e há uma estrada longa a ser percorrida.

O tempo me arrasta para seus propósitos, como a luz arrasta o dia para uma noite escura sem se importar se fui feliz.

Eu nasci em terra de ninguém.

Cresci em terra de ninguém e envelheço em terra de ninguém.

Na minha gloriosa luta pela vida, achei que fui Rei, mas, não sou Rei de coisa alguma senão dos meus próprios pensamentos e sonhos inacabados.

O que foi que eu fiz?

O que foi que eu construí?

Não me deram a chance de ser Rei.

Até aqui eu lutei, trabalhei arduamente, cresci, plantei vidas,

Quais vidas levantadas estão crescendo em terra de ninguém, vivendo como súditos de ninguém.

Ah! Como eu quero construir o meu reinado.

Poderia até ser chamado de Reinaldo, mas olha nome que me deram para levar para o meu trono!

Quero ser Rei do meu próprio sistema, do meu próprio mundo como lema, levantar súditos da minha juventude, vidas que construí na minha insanidade de moço.

Ah! Como eu quero esquecer a velhice, embora a ache divina, e não me apavorar pela morte.

E a morte é certa, o único fato que impede a velhice.

Pois, para ser eternamente jovem e belo, é só morrer moço.

Só lembrarão dos meus atributos.

Mas, se eu morrer moço, como chegarei a ser o Rei da minha própria vida?

Ah! Aqui e agora, nos meus áureos trinta anos, decidi ser Rei e serei.

Pintarei os meus cabelos em cor negra, coroarei a minha velhice prematura e serei um grande REI.

Eu, você, qualquer um pode ser o que quiser,

Até um Rei, como eu quero ser.

Neste carnaval me divorciarei da vida de plebeu, vou-me concubinar com a fantasia de Rei, namorar as colombinas e ser o Rei da Alegria do carnaval que em fevereiro desce a Márquez de Sapucaí.

Rio de Janeiro, dezembro de 1986.

(Em 14/01/2009 – Registrada)

Socrates Di Lima
Enviado por Socrates Di Lima em 14/01/2009
Reeditado em 16/10/2020
Código do texto: T1384222
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