Na (c)Idade da Pedra

Homem/arma/demonstração de poder nunca foram boa combinação, apesar de existir muito antes do alfabeto e dos analfabetos. A roda do tempo e o conhecimento, infelizmente, não mudaram isso; sofisticaram, se muito. As armas, principalmente. Bush e Israel, o povo escolhido para a matança, estão aí para prová-lo diuturnamente.

Mas não precisa ir tão longe, aos nossos olhos, nos nossos quintais, o fenômeno cresce firme e forte, a ponto de embotar a indignação de quem deveria senti-la (“Ah! Não adianta reclamar mesmo.”). Usam uma arma vendida sem qualquer registro de periculosidade e, pior, tida como sinal de status e não ferramenta útil: o automóvel. Abarrotam-no de acessórios, principalmente para que a aparência seja cada vez mais agressiva e o som cada vez mais arrasador.

Sei que a abordagem não é nem um pouco original, mas esse é apenas mais um motivo de indignação: se o assunto é tratado com tanto afinco, por que a coisa não muda? Por que esses idiotas acreditam piamente que o contato da bunda com o assento do carro os transforma instantaneamente em semideuses, senhores das ruas e dos ouvidos alheios?

Um jovem,vestido igual ao conteúdo de sua cabeça, em pleno domingo pela manhã, circulava pelo mesmo trajeto com o som algumas vezes acima do insuportável. O roteiro incluía a frente de um templo católico e outro evangélico, ambos com seus ofícios sendo celebrados no momento. Após ser interrompido várias vezes, o pastor saiu à rua e pediu que ele diminuísse o som. Educadamente o jovem.... mostrou-lhe o dedo. Há uma teoria de que o gosto musical é inversamente proporcional à potência do som do carro e que este também é inversamente proporcional à inteligência e aquela outra potência, mas deve ser apenas uma teoria, embora mereça análise mais profunda.

Buzinar, ameaçar, infernizar a vida dos outros, arrancar assim que o sinal abre, sem se importar se alguém atravessa a rua, ignorar solenemente a faixa de pedestre, dirigir como se fosse bandido fugindo do Zorro, arremessar lixo pela janela etc. etc. Cadê nossa Joinville? Voltamos à (c)Idade da Pedra?