Conversa ao pé de orelha... (sobre Gaza e Israel).

poet ha Abilio Machado. 160109.

A voz que há na chuva liberta a nostalgia, que viaja em vielas, ora belas ora obscuras, os vultos em tropeços pelas ruas em mortalhas de cores desbotadas de verduras, andam arrastando a vida ou se escoram nas mesquinhas cifras que os bolsos tinham... O vazio da boca que profana amarga a saliva em que se esmera a profecia, uma tarde que se fazia...

O rato na linha se equilibra sobre o precipício, faz alarde sobre a noite que aproxima, esconde as flores de alfazema na algibeira, e da aurora não quer ver a cora... Lá fora o tempo, as horas, o pó sai de chaminés, não há gritos, não há nada, só há sobre a mesa a grinalda em coroa e perfume de laranjeira e o som que ecoa pelo pátio qual cantiga pestilenta são sons os sinos longos que a artilharia mandou...

Também chamam por mim, é manhã, é maré!

As faces de ontem se esconderam, gabinetes decidem sobre minha próxima vida, se vou viver ou se não, só sei que inventam desculpas e sempre quem morre sou eu ou é você e não aquele que pelo telefone assinou a sentença que me deixa sem membros, que e deixa sem filhos, que me deixa sem um dia para ver amanhã...

Nas colheitas escolheram suas máscaras, na colheita das leis que criaram, leis que te fizeram prato principal ou sobremesa de bárbaros que não aprenderam com o próprio sofrimento e passado alguns anos refazem os passos e deixam outros sofrer...

O mártir que criam, que nasce em cada falso proclame da virtude da água da tua fonte que na sã semente virgem intacta a mão suja colocou, a revolta que se ergue é um desprazer sem igual...

Seria talvez o semblante arruaceiro de bengala á mão e o chapéu ancorado aos dedos e sorriso largo, dado perfeito que se fazem doce na pose ao fotógrafo aliado na hora da pergunta ou na face assustada quando o sapato aproxima-se arremeçado...

O fidalgo financia de longe, se prende à nota do dólar que a arma dispara e lá se vai o pobre coitado, caindo desajeitado sobre um deserto que é igual ao meu sertão, tão seco que a pele da terra se racha se esfarela, deixa como outrora de ser sabão...

Dizem que lá onde o pedaço de área querem é lugar santo, mas se santo fosse toda esta guerra teria? Só é terra santa talvez pelo sangue que nela já foi penetrado, de inocentes que acabam ficando ao meio dos desgraçados que a esmo as matam.

A demência que o povo carece é outra, porque não experimentam um dia na vida não julgarem aos outros como errado e sem a birra infantil do tudo é meu, não se encontram na esquina dão um beijo largado, saem de mãos dadas, um de vestido e o outro de mini-saia e brincam de ser feliz?!

A Israel que representa um povo que sofreu na mão de nazistas num passado não assim tão distante será que esqueceu, será que não está na hora de não repetir o que fizeram com os seus?!

Parece que aprenderam... Olham aos vizinhos mortos e a única desculpa de sempre foi lá quem começou...

Mão na consciência povo judeu, não façam que os povos que admiravam vocês comecem a achar que no passado o que sofreram era então justificado, acaso a quem rezam os seus senão a um mesmo Deus...