Obama by American way of life
 
 
        
       
Enfim, temos alguns olhares estupefatos de olho na terra do Tio Sam: esta terra, onde aportaram treze colônias (apesar de suas superstições quanto ao número), entre puritanos, alquimistas disfarçados de protestantes, simpatizantes do iluminismo e muita gente que mal sabia escrever e nada entediam sobre o que eu citei linhas atrás, mas que não impediu que os quackers se tornassem uma espinha dorsal e referencial por trás, nos dias de hoje, de poderosas instituições que tentam zelar por melhorias no âmbito humano pelo mundo afora. Mas não hei de entrar nesses detalhes.
        A terra do Tio Sam tem aquele breakfast de explodir o peito, literalmente. A alimentação rica em carboidratos, mais do que popular entre os menos abastados gera a maior população obesa do mundo e os clássicos problemas que entopem as vias do sistema de saúde de lá, particular, e que já insinua os sinais de decadência.
        Têm curiosidades na terra do Tio Sam que são muito típicas quando comparadas aqui com a terra do pau-brasil, embora os últimos dados sobre o PIB e o PIB per capita, deixem-nos morrendo de vergonha; mas as curiosidades são da grande massa de trabalhadores, dentre os quais, caixas de mercado, garçons, enfermeiros, motoristas de caminhão, professores de ensino básico, carpinteiros e etc. que formam o coletivo que enriquece àquela nação. Não estranhem, mas os programadores de computadores, os gênios da web, mal aparecem nas mais recentes listas de estatísticas econômicas que podem ser consultadas nas maiores revistas lá por eles divulgadas.
        O que me desperta atenção, e não posso deixar de focar-me nisso, é a questão racial da forma como aconteceu nos Estados Unidos da América. A segregação cruel e a pobreza imposta aos afro-americanos, apesar do glamour que vemos nos filmes que enfocam décadas anteriores aos anos 60, era algo absolutamente funesto. Não diferente daqui, as cadeias lotadas por negros, o subemprego, o distante sonho de forma-se numa universidade; mas a estima, o que mais me deixa curioso, não foi, me parece, tão vilipendiada assim; e se foi, não tenho os dados culturais analíticos da psique destes afro-americanos. A reação daqueles foi algo inusitado dentro de um American Way Life paranoico e conservador. Somente em 1962 se registra o primeiro negro a entrar numa universidade no estado do Mississipi. Em 1964 é aprovada a Lei dos Direitos Civis e inicia-se o fim de uma segregação que envolvia até separação de negros e brancos em ônibus. Por trás desses progressos está o fantástico Marthin Luther King, recebedor do Prêmio Nobel da Paz em 1964. O que me deixa pensativo foi a revolução desses Direitos Civis ao iniciar o fim da segregação racial e, citando uma de suas engrenagens, o ingresso dos negros nas universidades norte-americanas. Não preciso estender-me muito; o leitor, intuitivo e inteligente, perceberá, se olhar a terra aqui do sonho do Policarpo Quaresma, e se perguntará por que não tivemos uma explosão significativa dentro do contexto político, que é o mais poderoso em nosso cotidiano, no tocante à ascensão de negros dentro de nosso sistêmico tecido cultural brasileiro, preconceituosamente disfarçado de ovelha. Dados de 2006, do IBGE, mostram que a renda mensal de um trabalhador negro é 50% inferior a do trabalhador branco. Talvez isso explique a esquisita política de cotas, polêmica sim, mas que talvez exponha mais a estratégia antropológica de mostrar quem é de fato o povo brasileiro, lá dentro de sua psique. Porque adorar um ator de novela, um pagodeiro ou um canto de axé, negro, ainda me parece uma canhestra dramaturgia mental e um engodo de que entretenimento seja cultura e ainda mais: populares ou respeitados são os negros no Brasil que nos divertem? Eles são palhaços?
        Bem, sei que temos um representante negro no STF, tivemos alguns administradores estaduais e municipais nas últimas décadas e até mesmo o patriarca da Academia Brasileira de Letras; sim, há uma luz no fim do túnel, ainda que mais me pareça ser uma vela.
        Hoje, no Brasil, também é tendência pelo mundo afora, que o preconceito se suavize quando o indivíduo negro possui poder econômico; este viés influi mais na aceitação do outro, tornando-o igual a mim, quando o poder do vil metal fica patente antes de olharmos se ele é negro ou (pardo?), ou como queiram se definir; esta é uma das mais emblemáticas questões dentro das estatísticas do IBGE, que aparentemente destituída do escrutínio de amostragens antropológicas e genéticas mais exigentes, foca-se no efeito econômico. Por isso, os desajustes, a dificuldade em referenciar-nos.
        A posse de Barack Obama, o primeiro presidente negro nos EUA, terra onde há pouco mais de 40 anos pôs fim à segregação racial, revela que a terra do McDonald’s tem mais exemplos a dar, se nos focarmos e se pudermos querer mesmo ver esses avanços, o que a mídia tem tornado patente em suas matérias. Vemos uma enorme força, dentro de uma perspectiva da estima psicológica de uma etnia que sofreu, como aqui sofrem muitos afros descendentes, mas que teve uma reação poderosa dentro de uma terra onde os valores ainda são marcantes na maior parte das famílias. Valores e referenciais, os quais necessitamos mais definidos, aqui na terra onde já tivemos algo semelhante a uma Revolução Comunista Guarani (1610 a 1768), mas que ainda jazem dormentes dentro do Gigante, que décadas atrás, recebia a alcunha do adjetivo: adormecido.
        Marxistas, ainda de plantão, e militantes anti-american way life estariam revendo seus ideais impregnados de naftalina? Ainda que eu seja simpatizante do socialismo, não há como negar que no charco do capitalismo nasce uma flor de lótus do sonho, e temos a visão, a iluminação de que mais do que possível, seu sonho, nosso sonho, pode ser realizável. Na verdade, penso, são dos sonhos que brotam as realidades humanas.
        Hosana, Obama! Oxalá, Obama!

 




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Ronaldo Honorio
Enviado por Ronaldo Honorio em 20/01/2009
Reeditado em 22/11/2018
Código do texto: T1394451
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