O bilhete premiado

O golpe do bilhete premiado foi amplamente difundido e popular entre os vigaristas que agiram até o final da década de 90. Há quem diga que até hoje é praticado contra alguns incautos.

Todavia, o certo é que ele foi substituído por outros meios mais modernos de ludibriar os outros, notadamente pela promoção ao cotidiano dos chamados “meios eletrônicos” difundidos via Internet.

Quando era jovem, estudante na Faculdade de Direito, as incipientes aulas de Direito Penal nos chamavam a entender o núcleo do crime de estelionato e a compreender o “modus operandi” ,- isto é, como o criminoso lograva se locupletar induzindo em erro sua vítima mediante ardil – engodo – fazendo do seu artifício fraudulento o caminho de consumação do ilícito.

As notícias que cercam o terremoto que abalou o sistema financeiro mundial nos remetem ao passado e, no que me toca, cheguei a pensar em retornar para as aulas de Direito Penal, porque não deu ainda para digerir tudo o que está sendo noticiado e, menos ainda, aceitar que um grupo reduzido de privilegiados protegidos por uma nuvem invisível lucrem fortunas em detrimento da maioria que sai perdendo.

A crônica do jornalista Eliakim Araújo intitulada “Coisas do Capitalismo” (Espaço Vital de 13/10/2008) é simplesmente estarrecedora – nem mais , nem menos – é de deixar de cabelo em pé até a quem possui muito pouco cabelo, e mostra a total falta de compromisso dos líderes mundiais com os destinos da humanidade. A conclusão fatal, diante de tudo o que se divulga, é a de que terminou a globalização e acabou-se a fase do neoliberalismo. Mas sobram as perguntas. O que vem por aí ? E os culpados ?

Não dá para digerir com passividade um contexto como esse, porque isso representaria a aceitação de que a economia mundial está sendo comandada pelo mesmo jaez dos vigaristas que perambulavam pelas ruas de nossas cidades vendendo bilhetes premiados e levando para casa o dinheiro sofrido dos aposentados e das pensionistas que alinhavam, preferencialmente , no rol das vítimas.

A única diferença que se pode afirmar existir, é que o vigarista do bilhete premiado era só isso – o vigarista, enquanto que os larápios que levaram a economia mundial ao colapso são tratados como “executivos – empresários”, que não se conformaram só com “alguns aposentados” e aplicaram o golpe nos fundos de pensão e no manancial de dinheiro aplicado no mercado por milhões de pequenos poupadores.

Não passam, contudo, dos mesmos bandidos ostentando sofisticadas e hipócritas definições. Nomenclaturas diferentes para crimes de igual essência: estelionato.