UM HOMEM APENAS

Deitado, na sua própria imundice,

olhos perdidos, a tudo e a todos, num

comportamento totalmente surreal,

enlouquecido em vida, pela indiferença

e pelo ostracismo, votado pelos outros,

resolveu escolher a densa rua, como

última provocação, a quem, por ele,

se veja obrigado a passar, desviando, o

até então, enérgico passo.

Seu cabelo desgrenhado e sem ver água,

faz já muito tempo, deixa um cheiro

nauseabundo, por onde quer que vá, e, as

roupas, são pedaços de pano, que, um dia,

também tiveram sua cor e corte, bem

desenhado.

Enfrenta o frio, como ninguém, pondo jornais,

dentro da vestimenta. E, se a pouca sorte,

lhe sorrir, traz, a cobri-lo, uma velha manta de

retalhos, aquecendo-lhe a figura esquálida.

Pela manhã, depois de um resto de comida

(sobras da noite passada), procura com

entusiasmo, arrastando o passo, um espaço,

onde bata o sol, com vontade, e, aí, se senta,

num lugar sem nome.

Como de costume, nestas alturas, retira gazes

e plásticos, amarrados por uma corda macilenta,

e, ao calor do sol, deixa expostas, as tremendas

chagas, em carne viva, que a má nutrição e falta

de cuidados médicos, tomaram de invasão, seu

corpo frágil…

Seu nome, há muito esqueceu; família não tem

nem se um dia foi casado e teve filhos. Apenas

se recorda, de passar, todas as tardes, pelo

cemitério, onde descansam seus pais, que não

esquece. E, junto às árvores, um mesmo pedido:

que seus pais, o reconheçam, quando ele a eles

se juntar… um dia… um dia… solta-se a lágrima.

Jorge Humberto

27/01/09

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 28/01/2009
Código do texto: T1409435
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