vou-te fazer!...

Uma espécie de filosofia capaz de atrair uma rapariga inteligente, movida por uma ideia romântica e uma concepção determinista: as coisas não são o que se quer, são o querer com que se fazem. Este tempo, este modo, esta flexão verbal do verbo Fazer deve ser determinante, remetendo para uma interrogação pessoal.

«Por trás dum grande homem está sempre uma grande mulher», é um chavão cuja única falha será não ser exaustivo de todas as situações, mas esmagadoramente corresponder à evidência de qualquer estatística tomada como desnecessária até aos dias de hoje - onde se vive "a frieza dos números". A misógenia, a comida feita ou pré-fabricada, ... todas as alterações duma sociedade alterada podem vir a alterar os dados do problema, o que liquida uma história que até podia ser interessante.

A partir daqui distanciei-me do que não consegui até aqui, fazer o verbo ganhar a motivação dum mote próprio onde o narrador contaria a sua história contando com a sua dela, ela leitora, a quem se começou a dirigir dando-se como portador duma espécie de filosofia que não seria uma concepção elaborada, apenas uma ideia: qual primitiva duma derivada que não há maneira de integrar.

O narrador seria um poeta tentando conceber um romance como texto onde a arquitectura do poema encontraria todas as possibilidades que vão do poema dramático à poesia lírica, precisando dela como personagem para o construir a partir duma história simples como um conto que estaria acabado depois de contado, pronto para ser passado dum futuro aberto para um presente sem fim. Previsível prever acabe, como tudo o que começa, sendo parte da vida.

Essa mulher quereria construir com a sua realidade a imaginação do conto e pronto, só falta saber como lhe dar a ler o texto, fazendo-o acontecer como um antecedente do romance, pois seria a partir deste que ela o viria a conhecer a ele poeta, para ser sua musa inspirador e mentora! Agradar-lhe-ia a necessidade dele e reconheceria nela - o perfil duma heroína - desejando ser o alcalóide poderoso capaz de transmitir substância ao sonho alimentado, sem jamais o deixar cair em carência.

Porque não há dúvida que o amor é a droga mais poderosa que jamais o homem conheceu em todas as suas experiências físicas ou psíquicas, esta ocorrência poderia ser descrita com uma coerência igual às cores duma reacção estudada, possuindo os reagentes químicos necessários em quem se lê, de modo que quem lê seja ela e quem escreve seja o ele que ela lê. De forma incompleta sem a presença concreta deste escrever dum conto com que ele conta, para contar com ela.

O que faria desta uma história de sedução quase ideal, idealista é... de certeza! Tendo de obedecer a um tempo vivido como Presente, tem de ter condições extrínsecas, ficam elas entregues ao devir...

Vim, venho de escrever um parágrafo com o qual quereria parar, depois de chegar ao último parágrafo que será o próximo, o que faz com que prolongue este até dar o último como sendo o primeiro, a partir do qual acabei por escrever tudo o que fica escrito. Saber como ela me venha a escrever, será por certo tão incerto como eu saber se ela se vem a ler? É inevitável, como as descobertas...

O que é um conto? Em relação a esta pergunta este texto deve ser uma resposta, conto com isso. A partir daqui parto para a história como um descobridor parte para a aventura, não é como ter um parto, é como começar uma gravidez. A sua fundação é uma fecundação que já anteriormente ganhou corpo, mas só com a viagem pode vir a ficar completa.

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 01/05/2005
Reeditado em 09/10/2005
Código do texto: T14115