Quando o texto não sai

É. Há horas nas quais a melhor opção é ceder. Minha vontade era de estar escrevendo sob a inspiração de uma música que anda fazendo um eco danado no meu interior. Não deu. As palavras se perderam em algum ponto entre o coração e a mente, ou entre o cérebro e a mão, algum neurônio preguiçoso esqueceu de passar a mensagem adiante e sei lá aonde elas foram parar. O fato é que elas se recusaram a posar o tempo necessário para que eu pudesse pintar o quadro em minha mente que daria origem ao texto, essa forma de estampar nas folhas de papel ou nas páginas da net um pensamento, uma idéia ou um sentimento que existiu em um dado momento.

Meus sentimentos não quiseram se transformar em palavras? Será que eles não couberam nelas? Será que ficaram com o medo que todos temos de não serem compreendidos?

Sou incapaz de responder a essa questão tão essencial neste exato momento. Sigo ouvindo a música procurando no peito os motivos de eu ter retirado de seus lugares esta caneta e este caderno. Apenas vestígios. Foram-se, como um bando de pássaros assustados por uma presença qualquer que lhes faça sentirem-se ameaçados. Que ameaça real pairava sobre meus sentimentos arredios?

Devo considerar que ela existe ou existiu em algum momento, senão eles não teriam fugido. Mas agora não importa; eles se foram e não sei se voltam. Agora é esperar que venham outros em condições favoráveis para que eles desejem permanecer cá dentro até que eu consiga transferi-los através da caneta para o papel.