Vento e vela

Antes de me aventurar pelos mares revoltos do amor, antes que eu tivesse tocado pela primeira vez as velas aprumando-as no direção em que os ventos tornam-se amigos, quando eu apenas idealizava como seria esta viagem que, dizem, pode ser sem volta, eu procurava aprender com exasperação cada lição que a vida me ensinava. Muitas coisas pensei que deixaria para trás quando finalmente estivesse apto a dirigir meu próprio barco. Uma delas é esta presença que é cheia de ausência que chamamos de solidão. Quando não entendia nada ainda, porque nada havia experimentado, pensava na solidão como um extenso trampolim sobre o qual caminharia ainda por algum tempo até que precisasse correr para obter o impulso necessário ao salto que pretendesse dar. Mas agora que tenho comigo a experiência das primeiras viagens e das primeiras voltas à terra firme por não ter me adaptado à vastidão das águas, por não ter encontrado em minhas bússolas ou nas constelações o caminho para a liberdade, percebo que no mar não cabem trampolins como na piscina onde realizei meus primeiros treinos, onde aprendi, entre outras coisas, a nadar para quando fosse preciso. E senti forte em meus nervos que desconheço ainda a natureza dos ventos que sopram nas minhas velas, empurrando-as para a direção que eles bem entenderem. Senti que preciso aprender a dialogar com eles, reconhecer o tom das suas vozes, compreender no coração os seus motivos de mudança de direção, para saber como usá-los na minha viagem. E sinto que estes ventos que sopram sobre os mares do amor têm sua origem justamente naquilo de que quis me ver livre um dia: na mesma presença cheia de ausências: solidão, a própria.