Ora, ora, ficar a ver navios

Observá-los sendo carregados ou descarregados, em toda sua majestade e imponência, quando me permitiam visitar um porto, já foi um programa que me trazia muito prazer, impressionado que ficava com a sofisticação da logística que permitia o funcionamento de toda aquela parafernália. E isso numa época em que não era muito improvável que um contêiner destinado a Antuérpia fosse descarregado em Rotterdam, por exemplo, sem que ninguém tivesse qualquer explicação mais convincente para isso.

Conhecer um navio por dentro, e falo de cargueiro, não de navios de cruzeiro que exercem um outro tipo de fascínio, da sala de comando até o coração dele, a sala de máquinas, sei lá quantos pisos abaixo, foi uma experiência fascinante por ver de perto a imensa tecnologia que o move.

Faz um tempo, sem saber e sem esperar, topei com o Cisne Branco, veleiro da Marinha do Brasil, ancorado em Itajaí e aberto à visitação. Acho que fiz papel de criança deslumbrada, mas foi assim que me senti andando por dentro dele. Invejei cada marinheiro que tem o privilégio de ser pago para navegar nele todo santo dia.

No sábado, em Ubatuba, meio mágico, ele surgiu de trás da ilha que o mantinha parcialmente encoberto. A alva ponte de comando que se destacava pelo brilho entre os dois azuis, do mar e do céu, e o suave desenho do casco, bem pintado ( o que já é mais raro) de preto e cinza davam-lhe uma suavidade que escondia sua força e resistência. Manobrou um tanto, como o leão que se espreguiça sabendo que é alvo de todos os olhares e seguiu soberano para o porto. Qual será sua bandeira? Sua pátria? Seus destinos? Quantas tempestades já enfrentou para levar o que o homem produz para o homem que consome? Quantas histórias carrega em seu casco, em cada centímetro de sua carga, em cada vida de seus marinheiros?

Embora portem bandeiras, cada navio é uma nação em si, com sua história, seus costumes e, principalmente, suas leis. Submetem-se a ficar amarrados, mas apenas o tempo suficiente para cumprir a tarefa e depois seguir sua missão: ser pátria deslizante sobre o sagrado: as águas do mundo.