Professor?

Outro dia, encontrei no ônibus uma amiga que conheci na universidade, depois de vários meses sem vê-la. Seguiu-se aquele diálogo comum de “como vai?”, “o que tá fazendo?” e perguntas do gênero. Foi respondendo a uma dessas perguntas que disse a ela que abandonei o curso de Ciências Contábeis pela metade e entrei num curso de Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Língua Portuguesa.

Pra quê! Parecia que eu tinha acabado de dizer uma heresia da braba diante de um padre medieval. A moça, com os olhos saltados, me perguntou, estupefata:

- O que? Tu vai ser professor?

- É... m-ma-mas pretendo me especializar pra ser professor de nível superior - respondi com um leve acesso de gagueira, pois por um momento até eu me convenci de estava cometendo um ato inaceitável.

Pessoas, pra onde vai um país onde os cidadãos pensam que ser professor é uma vergonha ou uma carreira para os incapazes de “ser coisa melhor”? Pelamor! E olha que a moça em questão é formada em Pedagogia!

E depois, as pessoas não podem trocar um curso que teoricamente vai habilitá-las numa profissão onde se ganha mais, por uma que se ganha menos por questão de gosto ou ao menos por não ter se adaptado ao outro curso do qual se desistiu?

Sei não. O nosso mundo chegou a um ponto onde as pessoas só pensam em se transformar nas peças que faltam pra se encaixarem na grande máquina capitalista. Abandona-se sonhos, valores, princípios e às vezes até a dignidade em nome do dinheiro, do bem estar, do poder de consumo. Triste isso...

Mas eu não caio nessa. Pelo menos enquanto tiver escolha.

E vou cursar Letras feliz da vida, ainda que vire um reles, mas feliz, professor de Português...