Coroação

Eu coroei por dois anos e ficava numa satisfação que não tinha tamanho. Preparava-me durante o dia, colocando “papelote” no cabelo para ficar anelado (como dos anjinhos!). Arrumava, num balainho próprio, as pétalas de rosas para jogar em Nossa Senhora, quando eram colocadas a coroa e as palmas. Minha roupa era de tafetá branco e o acessório tradicional era uma coroa de florzinhas brancas. Ficaria mais contente se tivesse as asas lindas de penas. Mas contentava ficar sem elas, pois só as crianças de famílias mais abastadas iam assim arrumadinhas. No final da coroação todos os anjos ganhavam um cartucho cheio de amêndoas.

No último dia de maio, quando terminaram as coroações, estávamos numa sala saboreando as prendas, quando ouvi Dª Sílica

( a encarregada dos ensaios e organização da coroação) dizer para minha mãe que eu havia crescido muito e que aquele seria meu último ano de participação.

Fui dormir muito chateada aquela noite.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 19/04/2006
Reeditado em 17/02/2008
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