A CONQUISTA DO ÓDIO

ET DIMITTE NOBIS DÉBITA NOSTRA, SICUT ET

NOS DIMITTIMUS DEBITÓRIBUS NOSTRIS

Se uma fruta despencar de uma árvore e cair na minha cabeça, eu não odiarei a árvore e nem odiarei a fruta.

Se uma abelha me picar numa manhã ou numa tarde, eu não odiarei nem a tarde, nem a manhã, nem odiarei o enxame nem odiarei a abelha.

Se eu tropeçar numa pedra e cair no solo duro e me machucar, eu não odiarei o solo, eu não odiarei a pedra.

Mas se você, sem nunca ter me visto, sem saber quem eu sou e de onde vim, me ofender, me humilhar, me espezinhar, só porque detestou o meu modo de falar, o meu modo de olhar o mundo, e se recusou a se redimir, a se penitenciar dessas ofensas, e se aliou aos seus confrades para se fortalecer, e, juntos, me atirarem pedras, zombarem de mim, cuspirem em mim, escarrarem em mim, e me expulsarem do pedaço de mundo que não é seu e nem de ninguém, então eu odiarei você e odiarei a seus confrades e lançarei sobre vocês a minha maldição e você conhecerá a doença, e seus filhos e suas filhas, e seu pai e sua mãe, conhecerão a doença, a miséria e a dor. E você e todos os seus confrades passarão do riso e da zombaria e do escárnio, para os berros de dor, de desespero, e pedirão o alívio da morte.

Ah! Você não acredita e ri e zomba e gargalha como um palhaço que ri num riso de tormenta até que comecem os estertores.

Você e seus parceiros nos tormentos a que me expuseram, vocês verão seus filhos e filhas, seus pais e suas mães, estertorar na dor e nada poderão fazer. Verão seus esposos e esposas suplicarem pela morte redentora e a morte não virá. Verão suas casas desmoronarem, serem invadidas por inundações e pelo fogo. Tal qual leprosos todos se afastarão e fugirão das suas companhias e vocês não encontrarão ajuda, nem abrigo, nem alento, nem nas preces, nem no céu e nem no inferno.

Agora é a hora do riso. Riam, riam muito, riam a mais não poder. Até que a maldição comece, pouco a pouco, a surgir. Aí vocês implorarão por perdão. Tarde demais. Não haverá perdão.