ENFIADO EM VOCÊ, ATÉ A MORTE!

Dizia Drummond, numa de suas inesquecíveis obras poéticas: "Nunca esquecerei dessa pedra!"

Pois bem. A pedra talvez possa ser tudo que não conseguiu realizar em vida, é uma das muitas possibilidades. E quem nunca deixou de optar por este ou aquele caminho? Guimarães Rosa, em seu livro - Grande Sertão: Veredas, sempre diz que viver é muito perigoso; e o que seria de nossa vida sem os perigos?

Longe de mim é querer enveredar por esse mar de indagações que não tem fim, e o pior, não possuo o norte para chegada, talvez somente o da partida, se é quem alguem se arrisque.

Agora, verdade tem que ser dita: não houve ninguém melhor que Álvaro de Campos, para dizer sobre as pedras e os perigos dessa nossa vida:

"Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonher;

o que só agora vejo que deveria ter feito, o que só agora claramente vejo que deveria ter sido, isto é que é morto para além de todos os Deuses...

Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei. Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?

Esses, sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.

Enterro-os no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos... (Álvaro de Campos, "Na noite terrível...", Poesias)

Ora, e como está tão grudado, enfiado, penetrado em nosso ser essa marca do destino. Destino que se desata em nossas escolhas. E essas são nossas grandes companheiras até a morte.

No entanto, há um viés que possamos contornar, enganar e menosprezar esse trem da agonia, mas não podemos tirar de dentro de nós a lamúria do não ter vivido a outra possibilidade.

Por derradeiro, necessário é trazer Clarice Lispector para nossa conversa, quando em seu livro - Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, deixa-nos bem inquietos com uma de suas fantásticas frases de efeito:

"Não se preocupe em entender, viver ultrapassa todo entendimento!"