Recebi, ainda agora, um e-mail de alguém que assina como “Vida”. Não é comum que eu receba e-mails de alguém que leu meus textos. É forçoso reconhecer que minhas linhas não são exatamente algo que inspire comentários. Tenho inaptidão para escrever de forma linear, cartesiana. Imagino que seja mais agradável comentar belas imagens imaginárias, rimas ricas, mensagens de otimismo, homenagens românticas, versos bem fundamentados.
 
Enfim...
 
Mas estava lá. Assunto: Pobre de ti. Quem o assinou, como disse, limitou-se a escrever ao final: Vida.
 
E-mails apócrifos – diz a cartilha – não fazem jus a segredos. Transcrevo-o, pois, sem alterar sua redação original: 

 
Prezado Gusta,
 
Li vários dos seus textos e não consegui entender porque tanto ódio no coração e tanto rancor e amargura. A felicidade está nos grandes e pequenos momentos da vida e até no abismo pode nascer uma flor. Tenha Deus no coração que em breve você será uma pessoa melhor e mais amena. Não celebre o ódio e nem deixe o disamor afetar seu coraçãozinho. Você é talentoso e escreve com muito estilo. Sou professora de português e reconheço quando alguém escreve com qualidade. Se me permite, quero deixar uma mensagem de luz e paz que foi escrita por um grande amigo. “Se sua vida desanda, passe a andar. Se sua luz não acende, procure a luz nos outros. E quando a tristeza fizer morada no seu peito, dê a ela motivos para entristecer-se por si mesma. Fortaleza é seu nome.
 
E nunca se esqueça de um ensinamento muito importante: Não precisamos ver a beleza para saber que ela existe! Descubra-a, encontre-a e a viva.
 
Luz, paz e amor,
 
Vida.
 
Obs: Você faz confusão entre crônicas e contos. Contos são sonhos e crônicas relatos. Procure entender as diferenças de ambas as formas de expressão. 

 

Parei por dois minutos. Pedi uma xícara de café. Forte. O que responderia? A vida, afinal, merecia uma reposta. Acima de tudo, noves fora o escopo do texto, é inegável que a Vida está preocupada comigo. O que fazer? O que fazer?
 
Li novamente alguns dos meus textos. Li quatro e cansei. Não gosto mais deles. Não estou sendo irônico, gostaria que acreditassem. Eles não prestam para nada. Sempre achei que eram textos que fariam com que os leitores se sentissem bem ao terminá-los. Falhei. Uma pena.
 
A Vida está certa. Se a sua vida desanda, passe a andar. Se a sua luz não acende, procure a luz nos outros. Quando a tristeza fizer morada no seu peito, dê a ela motivos para entristecer-se por si mesma. (Vida, não entendi muito bem essa última parte. Quando a tristeza... Bem... Tudo bem).
 
Fortaleza é seu nome! Meu nome! Nosso nome?
 
E Vida!! Crônicas e contos são coisas distintas sim. Você também tem toda a razão. Contos, sonhos, crônicas, relatos. Entendido. Novamente, sem ironia.
 
A partir de agora vou passar a catalogar como ‘Conto’ todos os meus textos de luz. Talvez demore um pouco, mas estou determinado a redigir algum. Já encomendei Diário de um Mago.
 
 Fortaleza! Fortaleza!
 
Enquanto isso, cego que sou, escreverei mesmo o que sinto, essas crônicas que nunca foram vistas e que nunca – veja eu! - foram crônicas.
 
Contos são sonhos, crônicas, só relatos... Um dia decoro, mas por enquanto estou confuso. No momento, para ser sincero, sinto-me um cronista torto. Consegue imaginar, Vida? Um cronista torto. Sim! Do tipo que relata o que não viu. 

Que vergonha, Vida. Que vergonha, meu Deus!
 
Por agora, antes de dialogar com mais uma xícara de café, vou escrever em letras garrafais o ensinamento que carinhosamente me passaste:

- Não precisamos ver a beleza para saber que ela existe.
 
Pronto. Feito. Letras vermelhas, bem vermelhas, coladas com fita adesiva no canto de baixo do meu monitor.
Gustaalbuquerque
Enviado por Gustaalbuquerque em 04/02/2009
Código do texto: T1422135
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