Cavalos Históricos – Discussão Anunciada

Cavalos Históricos – Discussão Anunciada

Seria extremamente desonesto, senão partilhasse com os/as RLs de convivência, o estranho fenômeno ocorrido nesta madrugada, em virtude do texto Cavalos Históricos. Ao passo que eu realizava uma manutenção no meu computador, parafusando-o, resolvi deixá-lo ligado em virtude da tempestade, pois era necessário registrar a quantidade de relâmpagos. Enquanto parafusava, aproveitei para testar um novo software de alarme, que faz “ding” quando alguém comenta, e ia eu pois, numa bela concordância verbo conjugal, madrugada a fora, ouvindo “dings” e parafusando. Fiquei perplexo. Acreditem vocês que surgiram, entre 3 e 5 da manhã, 3.438 comentários não autenticados sob o texto Cavalos Históricos. Todos de estrangeiros, de todas as partes do mundo. Houve um leitor que deixou o endereço de e-mail no box do comentário – herbivoro2009@..., alegando ter sido uma gazela nas savanas africanas. Outro leitor, da Itália, jurava que fora um pelicano. E que se lembrava perfeitamente de ter sido um pelicano. Um francês, residente clandestino no Iraque, afirma que foi um ornitorrinco, que sonha com isso todas as noites e quis saber se eu tinha algum documento sobre a Estrebaria das Almas Eqüinas, ou quem sabe um endereço eletrônico. Outro francês, residente na Armênia, comentou que graças ao texto descobriu porque só come alfaces e cenouras há 57 anos. Uma mulher da Romênia, chamada Andrelova, disse que foi uma lagartixa numa fazenda em Santa Catarina. Andrelova esclarece que é pára-normal e que vende pamonhas nas ruas da Romênia.

Um rapaz que não quis se identificar contou que foi um macaco-prego na Amazônia, que era divertidíssimo, já que haviam várias macacas para brincar. Uma moça loura (assim ela se descreveu), que se dizia parisiense, tendo também deixado o endereço de e-mail: pariense2010@..., atesta ter sido uma ratazana descomunal e adicta em queijo prato, na Irlanda do século XIII. Um norte americano autodenominado Chuck N., comprova que foi a primeira mosca da Era Paleolítica. E depois um besouro. E por fim um sapo.

- Basta – exclamei, atordoado com o amontoado de “dings”, cansado de tanto parafusar, atônito com os relâmpagos e enfadado por comentários que não me diziam respeito, e que sequer eram autenticados. Educadamente, porém, tentei explicar que o texto era sobre cavalos desencarnados e suas vidas passadas, como cavalos, e não sobre seres humanos que foram bichos. Durou isso minutos sem conta, sem contar os parafusos para parafusar e o absurdo de suas crendices malucas, a cada “ding” uma nova maluquice, tipo “meu nome é Charles, sou bretão, gostaria de saber se havia algum pônei na Grande Estrebaria”, ou, “oiiiiii, rs..rs..rs...fui um boto cor de rosa, depois uma zebra preta e branca, listrada, em seguida um javali, tenho tudo anotado num catálogo, gostaria de tc comigo?”. O que alega ter sido macaco prego diz que não agüenta mais a esposa, que ela só reclama, que sua vida se transformou num mar de contas a pagar, e que morre de vontade de voltar para a selva e brincar com as macacas. O ex-pelicano fica nostálgico toda vez que vai ao cais e o francês do Iraque conta que só foi pra lá por causa dos sonhos, repleto de ornitorrincos, que afinal se parecem em muito com um artefato militar. Confessa que encontrou o merecido sossego no Iraque. Enfim, como esse estapafúrdio desabafo coletivo, desencadeado por um texto inócuo, parecia não ter fim, ao invés de continuar ouvindo a mesma cantilena, comecei a perguntar. E num piscar de olhos descobri o ponto de ligação entre os comentaristas. São todos pára-normais. Estão sempre se comunicando. Oram no mesmo horário, em qualquer parte do mundo. E monitoram atividades de internautas pelo globo com rigor espartano. Bastou alguém mencionar Almas Eqüinas, simpósio, etc., e vieram como um enxame dar na minha porta e me questionar. Recentemente fundaram uma ONG chamada “Ser Humano Assim Não”. Querem por todo pano voltar a ser bichos.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 05/02/2009
Reeditado em 04/07/2013
Código do texto: T1423848
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.