DIÁLOGO COM SÊNECA

Eu estava ontem relendo alguns fragmentos de alguns textos de Sêneca e de repente me deparei com o coro das "Troades". Foi um impacto extraordinário, quase que inexprimível, não pela novidade, haja vista que eu já havia lido esse texto algumas vezes. Mas dessa vez foi diferente. O pessimismo daquela página estremeceu-me, arrepiou-me, inexplicavelmente, dos pés à cabeça, então corri trêmulo, peguei um copo com água. Procurei me acalmar e a cada gole digeri cada reflexão suscitada com aquelas frases: "nada existe depois da morte e a própria morte, meta última da veloz corrida do mundo, é o nada; (...) Perguntas onde estarás depois da morte? Onde estão as coisas que não tiveram nascimento". Após esse primeiro impacto tentei recompor as minhas forças e o meu discernimento. Tentei, mas as indagações e principalmente a conclusão postas por Sêneca perturbou-me, invadiu-me evadiu-me. Então, escrevi sem pensar, só para controlar aquele entusiasmo, e voltar-me ao estado normal.

Primeiramente, ao escrever, tentei imaginar as motivações que levaram Sêneca a ter conclusões tão pessimistas, acerca do problema do destino humano e do além, não consegui com precisão buscar as origens dessa desolação, apenas sugeri para mim mesmo que talvez o nosso filósofo estivesse muito decepcionado com a política, com as relações humanas... Mas só isso não me contentou, não acho que foi apenas uma exasperação momentânea desprovida de quaisquer reflexões. Acho sim, que ele já havia pensado muito e apenas aproveitou um momento evasivo para externar sua desesperante reflexão. Porém, não tentei apenas imaginar as motivações que o levaram a escrever essas páginas tão tentadoras. Fiz minhas próprias reflexões e tirei minhas conclusões. Será que há vida após a morte? Se há, para onde iremos? Qual será o destino humano? Inicialmente tentei olhar como se nunca tivesse olhado. Fui refletindo cada conceito humano sobre a vida, que eu tinha aprendido. Questionei o inquestionável. Desaprendi o que a escola da conveniência havia me ensinado. E as respostas que obtive foram perguntas. Somos frutos da evolução dos primatas ou fomos criados por Deus? Se um Deus nos criou, quem criou Deus? Ele surgiu do nada? Se Deus existe, como será seu aspecto? Terá forma humana com barba grande e branca? Ou será o próprio Universo, que em sua enigmática existência cria e “descria” tudo que existe, inclusive a si próprio?

Mas essas indagações, em vez de me trazerem paz, me trouxeram outras reflexões mais profundas e mais úteis, que me permitiram encarar, de frente, a tentadora, angustiante e ávida observação do filósofo.

Então Sêneca, se nada existe depois da morte, por que pensar na morte? Você não acha que enquanto estivermos vivos devemos pensar unicamente na vida? Que a morte só pertence ao mundo do mistério? E o mistério nunca é o que imaginamos ser? Que se Deus tiver a forma humana ou for o próprio universo, nada importa? Pois o que importa é a fé na sua existência? E se essa fé nos diz que Deus nos protege e nos ama, não é melhor tê-la?

junior trezeano
Enviado por junior trezeano em 09/02/2009
Reeditado em 12/02/2009
Código do texto: T1429820