Uma outra Paulicéia desvairada

Corpo & alma em ociosidade, transitando vou pela tarde-noite da cidade. Quatrocentona e amada Sampa. Fluxo & refluxo da humanidade no Viaduto do Chá. E ao fundo, o Teatro Municipal.

O prédio repousa imponente no Centro Velho. Mármores importados adornam suas escadarias e os relevos & afrescos nos convidam a apreciar o alto.

Cerimonioso, adentro o prédio que surgiu financiado pelos barões do café. Sacas e sacas do ouro negro vegetal em troca de tintas, mármores, artistas e artesões do Velho Mundo.

Palco de concertos e da Semana que desconcertou o Brasil. Percorro o soberbo conjunto e pareço ver, ainda, Mário de Andrade e os poetas sentados na escadaria.O piano de Guiomar Novaes soando em pianíssimo a mesclar erudição & brasilidade.

E tantas obras, tantos frisos & afrescos.Uma porção de Florença, outra de Paris, por entre salões e o palco...Onde dançam prima-donas, tenores desafiam cristais, e a orquestra revive Mozart.

Saio esmagado, minúsculo, diante de tanta imponência. Pego a Barão de Itapetininga e me misturo aos homens-sanduíches e seus cartazes de emprego. Estaciono no Rei do Mate e peço um. A rua, agora, desfila deselegância. Porém, por ínfimos instantes, guardo este pedaço maravilhoso de Sampa no peito.

Logo, vão surgir os michês e seus clientes e tantos outros habitantes noturnos das ruas. Pego o embrulho de minha saudade. Lentamente, me dirijo ao Hotel...