A MAGIA DAS PALAVRAS ANDANTES
 
 
 
                         No tempo
                                          que eu
                                          não te conhecia,
                                          aprendi numa lousa
                                          de palavras andantes,
                                          que se movimentavam
                                          na casa do silêncio
                                          e da escuridão...
                                          Foi assim que comecei
                                          a descobrir que
                                          Felicidade,
                                          é uma ave passageira,
                                          que voa horizontes
                                          no coração de poucos seres,
                                          e que muda e se transmuda...”
 
                                                   (Reflexos da Alma)
 

 
         Mal comecei a andar e já me bandeava, gurizinho, para os lados daquela casa que eu acreditava mágica e, onde na maioria das vezes, se ria, e outras tantas, muita gente grande chorava, principalmente, as mulheres e as mocinhas.

       Na minha miúda visão eu achava que as imagens moravam ali mesmo, detrás daquela telona branca, que era encoberta por uma cortina num tom vermelho grená.
 
       E então, nesta casa que não se podia conversar e que ficávamos às escuras, foi que comecei a prestar atenção nas letras e palavras que iam passando na tela, depois que as cortinas bonitas se abriam.
 
       E minhas irmãs e também suas colegas, iam contando para mim o que elas diziam.
       E assim com o passar do tempo fui me familiarizando com aquela casa mágica e já sozinho ia me virando com as palavras, que vinham acompanhadas de músicas e de imagens.
      
     Quando entrei no grupo escolar, com seis anos de idade, já estava totalmente familiarizado com as letras e com as palavras, que havia conhecido na casa do silêncio e da escuridão.
 
       Esta é toda a minha admiração e meu amor pelo cinema. Chamava-se, Cine Theatro Santana, e era o melhor cinema do mundo, do meu mundo!
 
       No começo freqüentava apenas as matinês de domingo, e não via a semana passar, para, principalmente assistir ao seriado, ora de Flash Gordon, ora de Rod Cameron e outros tantos que povoaram de encanto, de graça e de ternura o meu pequeno mundo.
 
       Os filmes eram todos em preto e branco, mas nossa vida era toda ricamente colorida, o que fazíamos também colorindo as imagens ao nosso gosto e à nossa imaginação.
 
       E com o passar do tempo foram surgindo heróis e heroínas, a desfilar na tela e na alma e em nosso coração: Roy Rogers, Randolph Scott, Gary Cooper, Cary Grant, Burt Lancaster, Clark Gable, Audi Murphi, Stewart Granger, Ava Gardner, Rita Hayword, Susan Hayword, James Stewart, Elisabeth Taylor,Rock Hudson, Oscarito e Grande Otelo, Cantinflas, O Gordo e o Magro, Charlie Chaplin, Dean Martin & Jerry Lewis, Humphrey Bogard, Laureen Bacall, Sofia Loren, Gina Lollobrigida e outras centenas...
     
      Religiosamente ia ao cinema todas as noites, muitas vezes, acompanhado por meia dúzia de expectadores. Todas as noites lá estava eu para ver um filme ou revê-lo, se fosse em reprise. Como eu era apaixonado pelo cinema!
      
     A magia que existia me acompanhou pela vida e ainda hoje, sinto uma emoção gratificante e alegre quando, raras vezes, me dirijo a um cinema.

       Os tempos  são outros e hoje, com a preponderância da televisão, dos aparelhos de DVD e outros recursos mais sofisticados fecharam as salas de cinemas nas pequenas cidades, e praticamente as restringiram em Shopping Centers nos grandes centros.

      
(in Sant'Anna dos Olhos D'Água - Crônicas)

                            Vinhedo, 15 de julho de 2008.