Uma crônica sobre A Friagem e outras considerações.
 
          Acabo de ler um livro de contos chamado A Friagem. A autora é uma goiana, Augusta Faro. Tenho este livro há algum tempo, mas tenho tantos livros não lidos que eles precisam brigar para chamar a minha atenção. Parece até a corrida dos espermatozóides. Como agora estou na fase dos contos chegou a vez dele.
          Sou assinante de Veja há muitos anos. Gosto muito de ler os ensaios e de vez em quando gosto tanto de um que arranco a folha com cuidado e guardo. E de vez em quando também eu faço uma faxina e jogo quase tudo fora sem reler. Mas alguns são salvos de minha fúria e escapam. Isso aconteceu com uma página escrita por Roberto Pompeu de Toledo em 1999. No século passado, o que é assustador. Pompeu de Toledo escreveu HISTÓRIAS DE MULHERES E DE GOIÁS. Quando eu reli esse ensaio isto já neste século, comprei o livro de Augusta Faro. E agora, lendo-o, encontrei entre suas páginas o dito ensaio e o reli também.
      Não vou escrever aqui o que o articulista escreveu sobre o livro. Vou escrever o que eu achei sobre o livro. É muito bom. São treze histórias fantásticas sobre mulheres fantásticas. O que acontece com elas extrapola o real. As narrativas são pura magia. O articulista realça a figura do escritor maior que a influenciou: Garcia Marques. Eu concordo.
         Mas o que mais chamou a atenção no artigo de Veja não foi a sua crítica sobre o valor literário do livro. Foi a sua triste constatação de que o “Brasil está de costas para o Brasil”. Ou seja, com autores de qualidade superior as editoras de renome não investem em nossos escritores. Enchem as nossas livrarias e todos os lugares onde os livros podem ser vendidos de porcarias vindas de outros lugares. Não dá para entender.

         Algumas pessoas costumam perguntar por que ainda não publiquei nenhum livro embora já tenha escrito vários. A minha terapeuta também quer saber o que me tolhe. Eu não sei dizer com clareza. Mas sei que algumas das razões passam por esta constatação: não vale a pena. O livro de Augusta Faro demonstra isto: o exemplar que eu tenho é de 2001. É da Global Editora, uma edição barata, mas bem cuidada. E já é a quarta edição.. As três primeiras foram feitas por editoras mais simples. Pelo menos a primeira, Pompeu de Toledo diz que foi uma edição descuidada, de poucos exemplares e impossível de achar. E mesmo agora dez anos após sua primeira edição Augusta Faro continua uma desconhecida fora do seu eixo de ação que é o centro-oeste. Fiz um teste e andei perguntando para pessoas ligadas a livros e literatura – ninguém a conhece.  O mundo dos leitores não sabe o que está perdendo.

          Mas há um consolo no Ensaio  de Toledo: ele diz que pode haver vida inteligente vivendo em Goiás e não saindo de lá. Constatação que amplio freqüentando o Recanto: há vida inteligente em todas as partes do país embora o país não tome conhecimento disso. Poderia citar aqui um número grande de grandes escritores, alguns relativamente conhecidos no ambiente em que vivem, mas completamente desconhecidos no resto do país.Só não faço isso para evitar constrangimentos. Mas aqueles que assim considero sabem disto. E aplico a mim também, afinal sou uma escritora embora não ganhe um tostão com isto. Sou uma escritora porque levo esta atividade a sério. E vou mudar a minha classificação aqui: sou uma profissional porque sei fazer o que faço.