Um lugar no Sertão do seu coração- O caso do macaco assassino

O Caso do Macaco assassino de Adolfo

Essa é uma crônica que segundo algumas pessoas desta pequena cidade do interior paulista dizem tratar-se de uma historia absurda, porém verídica. Por esse motivo nomes e datas foram omitidos e ou alterados..

Alencar é um moço trabalhador, quarto filho seu João e dona Maria da Paz de uma família de seis, três homens e três mulheres, todos agricultores , que labutam o dia a dia com a terra, plantando e colhendo o fruto sagrado do seu suor. Sendo por Deus abençoados possuem uma situação econômica bastante tranqüila.

Desde a mais tenra idade Alencar foi dado a farras e a bebida, abandonou os estudos ao concluir o segundo grau. Possuindo um tamanho bastante avantajado, 1,90m de altura e um corpo bastante musculoso, devido ao trabalho braçal, sempre tirou proveito de sua compleição física para demonstrar sua valentia, promovendo algazarras e badernas quando fica sob efeito do álcool, desafia a tudo e a todos sendo muito temido pela pacifica população desta simpática cidade.

Embora sendo um arruaceiro, ele teme ao pai, e que é um homem pacato e religioso, mesmo ficando em estado de deplorável embriagues, quando seu pai vem para apanha-lo a pedido de alguém incomodado, ele o acompanha cabisbaixo e no dia seguinte retorna aos lugares onde esteve para desculpar-se com todas as pessoas, ficando sempre uma semana sem retornar ao mesmo local.

Ao fazer 25 anos, seu pai já não agüentando mais as peripécias de Alencar resolveu dar um basta, e deu-lhe o prazo de um ano para que arranjasse uma namorada e se casasse, para por fim a sua irresponsabilidade. Como se isso fosse fácil. Pois, se sua fama de arruaceiro não fosse tão grande, creio que; todas as moças direitas da cidade estariam afim de que ele viesse pedi-las em namoro.

Da data daquela conversa em diante Alencar mudou da água para o vinho, pois temia que o pai o deserdasse, e que ele tivesse que trabalhar como bóia fria nas terras de outras pessoas. Começou a freqüentar a missa aos domingos e mesmo quando ia às festas comportava-se como gente de bem, deixou a bebida, e as más companhias e agora era condicionado a obedecer aos conselhos dos dois irmãos mais velhos Juca e Faustino, tendo com essa mudança também caído nas graças das irmãs que já o houveram dado como perdido por causa de seu comportamento bastante agressivo quando bebia.

Foram elas, as duas mais novas Juliana e Margarida que fizeram com que a vida de Alencar agora se arranjasse de vez, Elas convidaram Terezinha, uma linda morena de dezessete anos para irem em sua casa para fazer um trabalho de escola, filha de seu Mariano mecânico e moleiro de caminhões e dona Etelvina, que recentemente haviam vindo para cidade afim se estabelecer.

Parece que foi amor a primeira vista, durante o almoço os olhos dos dois se cruzaram e uma paixão imensa nasceu dali, deu-se num crescendo como fogo num palheiro. Naquela tarde Alencar não conseguiu trabalhar de tão empolgado e a Terezinha então, tirou nota baixa na prova do dia seguinte, a primeira em toda a sua vida, o trabalho em grupo foi salvo pelo esforço de Juliana que foi ajudada pela Margarida ela só tinha lugar em seu pensamento para Alencar. Pouco depois de um mês o caso de amor era mais serio do que se possa imaginar, Alencar foi até a oficina do seu Mariano e pediu a mão de Terezinha em casamento. Seu Mariano incrédulo com aquilo, não soube o que responder e ficou muito perturbado, pois fazia exatamente três meses que estava na cidade, sua outra filha, a mais velha, Sebastiana, já estava entrando no quinto ano de noivado, e seu noivo Aron, um filho de família evangélica vinha todos os finais de semana de Aparecida do Tabuado, para namorar e disse que se casaria dentro de dois anos assim que sua casa estivesse terminada e mobiliada.

Mas na semana seguinte, Alencar acabou por surpreender novamente, ao convidar seu Mariano e a família para um almoço na casa de seus pais, e também queria mostrar-lhe o andamento das obras de sua casa, que corria de vento em popa, com cinco pedreiros, dois carpinteiros e dez ajudantes, até o mestre da obra estava admirado com a fibra do rapaz, pois a construção que fluía mais rápido em toda a região era a casa do Alencar. O almoço foi um sucesso, e houve mais uma grande surpresa, foi quando Alencar tirou um par de alianças do bolso e firmou o compromisso de noivado, com Terezinha, para a perplexidade de todos, pois até a noiva embora muito feliz não imaginava que isso iria acontecer. Mas o que realmente deixou todo mundo de boca aberta foi que ele marcou a data do casamento para três meses depois. Seu João estava muito feliz, seu filho agora era um homem de bem, com o ímpeto e a garra que ele também teve na sua juventude, lembrou de seu casamento com a dona Maria da Paz, que já estava para completar trinta e dois anos e ele tinha apenas cinqüenta e um anos. E abriu uma garrafa de champanhe para brindar a futura filha e desejar que a historia de felicidade deles fosse repetida.

O tempo parecia voar, e a obra também, estava quase concluída, o dinheiro do Alencar parecia brotar como a soja, em tempo de chuva, ele trabalhava dia e noite, seus negócios iam a todo vapor, até seu Mariano se emocionou quando ele passou em frente a oficina com o trator novo que havia comprado com o financiamento do Banco do Brasil, chegando a dizer de boca cheia aos fregueses da oficina ai vai meu genro, esse é homem macho de verdade. Com o casamento marcado para daqui trinta dias ele ainda tem peito para entrar na divida de mais um trator, e vejam só é novinho em folha, o pessoal da cidade que conhecia bem o passado do Alencar, também ficava atônito a cada nova conquista que ele auferia, era realmente inacreditável como alguém pudesse mudar assim em tão pouco tempo.

O casamento ocorreu sem surpresas e foi uma grandiosa festa na fazenda do seu João. O padrinho de casamento de Alencar Dr Furtado, um advogado e proeminente criador de gado nelore, forneceu quatro garrotes para o churrasco, O chopp, veio de Agudos, o melhor da região patrocinado pelo seu Zequinha um forte comerciante ex-patrão do seu Mariano, que era o padrinho da noiva, veio com a esposa de avião próprio de Aparecida do Tabuado para honrar a festa. Foi uma das maiores festas da historia da cidade, começou no sábado de manhã e na segunda ainda tinha gente comendo churrasco e tomando chopp as dez da noite.

A lua de mel do casal aconteceu em no Guarujá no litoral Paulista, um amigo do seu João que possui um apartamento de frente para o mar na Praia da Enseada, fez questão de emprestar a chaves para o tempo que eles quisessem ficar.

Tudo acontecia como um conto de fadas, ao completar três meses de casada Terezinha anuncia a todos que vai ser mamãe, e isso encheu a todos de satisfação, principalmente seu João que só tinha duas netas e essa seria uma grande oportunidade de ter um varão na família. Seu Mariano então nem se fala, o homem era só festa, dona Etelvina então queria ate mudar para a casa da Terezinha para cuidar da filha grávida, e só não o fez por imposição do marido, que disse que não deveria entrar nada de fora que pudesse atrapalhar a vida do casal.

Como se o tempo voasse para essa gente que estava vivendo tanta felicidade, logo veio ao mundo o tão esperado menino que para encher mais ainda de orgulho seus avós se chamou João Mariano, houve uma imensa festa, dessa vez na casa do casal. Alencar mantinha uma postura firme e parecia ter realmente se afastado da bebida para sempre, muito cordial e gentil chegou até a apaziguar os ânimos de seus antigos colegas que vieram em sua casa e começaram a trocar insultos entre si.

Nem havia completado um ano de vida João Mariano ganha uma irmã; Julitiana, nome que Terezinha criativamente somou em nossos dicionários, feitos da fusão de Juliana a cunhada e Sebastiana sua irmã. Mas a coisa não parou por aí, e logo vieram Fausto, Fernando e Maria Etelvina, e os tempos de ouro agora eram tempos de ferro, com a terrível mudança das políticas econômicas nesse país, durante o plano cruzado, muitos agricultores proprietários perderam tudo ou quase tudo, seu João foi um deles e com a derrocada financeira veio também a doença e logo partiu para o descanso eterno. Alencar também quebrou as pernas na ciranda financeira e perdeu quase tudo o que havia conseguido a duras penas com seu esforço fenomenal, inclusive foi obrigado a vender a casa e as terras que tanto gostava. E foi com a família morar num pequeno, mas bem arrumado sitio no lado sul bem próximo da cidade.

Alguns comentam que foi curta a distancia dos bares que o fez retornar à bebida, outros dizem que tudo foi causado pela decadência que passou, mas o que se sabe realmente é que ele voltou ao copo, com uma vontade de recuperar os seus dez anos de abstinência em um ano de embriaguez, e assim acontecia. Seu mariano e dona Etelvina desgostosos com a situação da cidade e a falta de perspectivas, retornaram para Aparecida do Tabuado, para morar numa pequena casa que seu genro Aron construíra para o casal. Vindo visitar Terezinha uma vez a cada dois ou três meses.

Terezinha agora amargava uma vida de dificuldades, não chegou a ter de trabalhar para fora, mas o conforto e a segurança de seu lar estavam completamente comprometidos com as inconseqüências e loucuras praticadas por Alencar que agora tinha retornado aos velhos companheiros e vivia na boemia.

Até o presente instante eu não havia falado no principal personagem da história, mas agora chegou a hora de falarmos no Chico, isso mesmo Chico é um gibão, um macaco de médio porte que Alencar trouxe de Mato Grosso quando filhote para o primeiro aniversário da Julitiana. Chico, vive preso a uma corrente de dois metros, corrediça num varal de aproximadamente dez metros. Chico passou a odiar Alencar, depois que ele voltou se embriagar, e por muitos motivos, um deles é que esta espécie de animal é extremamente inteligente e apegada ao ser humano e durante os episódios quase diários da embriagues de Alencar ele agride fisicamente Terezinha e todos os filhos, na frente do símio, Que por sua vez também já foi surrado por fazer uma enorme algazarra ao ver as crianças e a Terezinha serem espancadas por Alencar, que agindo como se fosse rotina, chega, bate em todo mundo até nos cachorros, e depois vai se deitar, acordando como se nada tivesse acontecido.

Terezinha como uma mulher inteligente que é ultimamente tem contornado a situação, mandando as crianças para a casa da vizinha que mora num sitio a pouco mais de um quilometro, ordenando para que lá permaneçam até que Alencar durma.

Mas um dia a casa cai, como diz o velho e certo ditado popular, era uma tarde de verão e por volta das sete da noite, Alencar chegou totalmente embriagado, e começou a sessão de agressões, Terezinha mandou João Mariano levar os irmãos para a casa da vizinha rapidamente, pois Alencar começou desta vez batendo nos cachorros, ficou apenas com Maria Etelvina que tinha três anos, e quase sempre era poupada pela fúria de Alencar, que já procurava os mais velhos, e não os encontrando começou a desferir tapas e chutes em Terezinha, que correu para o quintal, momento em que Chico começou a sua algazarra em protesto ao que via. Alencar totalmente insano tomou de um chicote e começou a açoitar o animal. Depois de muito custo e com a intervenção de Terezinha ele deixou de espancar o macaco e foi como sempre fazia deitar-se em seu quarto.

Alencar entrou fechou a veneziana, tirou as roupas apagou as luzes e se deitou. Não se sabe ao certo como, mas Chico soltou-se da corrente e com uma rapidez que é peculiar dos primatas, em poucos segundos estava sobre o corpo de Alencar, atacando-o no escuro com a verdadeira fúria incontida de um animal cujos dentes cortam como navalha cujas unhas agarram-se como pregos. Chico havia destroçado a Jugular de Alencar o sangue jorrava de seu pescoço, ele mal teve tempo de gritar. Quando Terezinha entrou no dormitório ela assistiu a uma cena totalmente aterradora, Chico tentava arrancar as os ossos do pescoço de seu marido que a essa altura não tinha mais vida alguma, ela não titubeou armou-se de um machado e conseguiu cortar a cabeça do animal com um só golpe.

A policia técnica, com seus peritos científicos procedeu as investigações, constatando que realmente a versão que acabo de contar é a expressão da verdade. Embora muitas pessoas contestem essa versão, afirmando que Terezinha havia treinado Chico e que ela planejou esse crime sanguinário, e após o macaco ter trucidado a vitima ela friamente eliminou a única prova desse bárbaro crime, que findou uma grande história de amor e essa crônica de algum lugar no sertão do seu coração.

Zoiudo
Enviado por Zoiudo em 23/04/2006
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