ADEUS, ANO BOM!

ADEUS, ANO BOM!

2008, o ano da primeira grande crise econômica do século XXI, também entrará para história como aquele em que o Brasil alcançou o “Grau de Investimento” e a autossuficiência em petróleo. Também será lembrado como o ano em que, pela primeira vez, um negro (Barack Obama) assumiu o controle da maior democracia do mundo, e outro (Lewis Hamilton) tornou-se o primeiro dessa etnia a ganhar o campeonato mundial de Fórmula 1. Aliás, diga-se de passagem, não seria exagero afirmar que, com a ascensão de Obama, o controle do mundo volta às origens. Afinal, ao que tudo indica, foi na África onde tudo começou, tendo sido o Egito o primeiro grande império mundial da história da humanidade – e seu governante geral, o faraó, certamente não era branco.

Do meu caderninho de anotações, extraio alguns dos eventos que, em função da data que ocorreram, tiveram, em 2008, um significado especial. Um desses é a famosa Lei Aurea, de 13 de maio de 1888. É verdade que o negro brasileiro, 120 anos após ter sido libertado das correntes da escravidão, ainda continua preso às algemas do preconceito, do racismo e de seu próprio comodismo, em alguns casos. Apesar disso, é injusto ignorar que a sanção da tal lei tenha tido o peso das pressões exercidas tanto pelos movimentos abolicionistas quanto pelos negros – alforriados, refugiados e escravos.

Também em 2008, o povo judeu pôde rememorar os 60 anos de criação do Estado de Israel; o que lhes deu o direito de poder dizer, depois de quase 2 mil anos de peregrinação pelo mundo: “estamos voltando pra casa”. Por outro lado, essa data também significa o início de uma odisséia que parece infinda para outro povo tão vítima da ambição dos grandes blocos econômicos mundiais quanto os próprios judeus: os seus co-irmãos palestinos, que, até hoje, são reconhecidos não como um Estado, mas simplesmente a “Autoridade Palestina”. 2008 também nos lembrou que, há 60 anos, o mundo começara o ano mais triste, com o assassinato do grande pacifista indiano Mahatma Gandhi em janeiro de 1948.

2008 marca para os brasileiros 40 anos do momento mais autoritário da história da nova República, a promulgação do Ato Institucional de nº 5, que transformou o presidente da República ‘simplesmente’ no “supremo e absoluto chefe” da nação. Este também foi o ano do vigésimo aniversário de promulgação da nova Constituição da República Federativa do Brasil, que trouxe de volta o sonho de soberania, liberdade e democracia, tão longamente acariciado (e tantas vezes frustrado) pelo povo brasileiro.

Para os amapaenses, 2008 também foi um ano bom. Afinal não é todo ano que sua capital comemora 250 anos e, de quebra, tem um de seus patrimônios históricos (Fortaleza de São José) eleito uma das sete maravilhas do país. Isso só poderia terminar em samba. E terminou... Homenageando a capital tucuju, a escola de samba Beija-flor de Nilópolis foi campeã do carnaval carioca deste ano.

Este ano bom marcou ainda o centenário da morte – se é que ele morreu mesmo – do maior expoente de nossa literatura: Joaquim Maria Machado de Assis, um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Vale ressaltar que Machado de Assis, além das limitações impostas pela pobreza e pela epilepsia, teve que, a semelhança de Obama, superar os estigmas de ser remanescente de escravos e negro no Brasil do início do século XX.

Eu só não concluí no parágrafo anterior porque preciso lembrar mais dois marcantes fatos deste ano bom: o primeiro é que, pela primeira vez, um gestor municipal fora reeleito – no caso, uma gestora – em Laranjal do Jari; o segundo é que este foi o ano do 5º aniversário da Academia Laranjalense de Letras, a qual já fora tema de estudo para alunos do Curso de Letras da Universidade Vale do Acaraú.

Por tudo isso, e muito mais que o tempo e o espaço não permitem referir-me agora, só tenho mesmo que dizer – sem crise ou com crise – “ADEUS ANO BOM!”