A noite do destino.

Se acaso interessasse, teriam visto seus olhos, assustadores eclipses de onde a vida partira.Olhos onde antes se hospedavam cupidos, agora um pântano derramando visões tantas, segredos, belezas e torpezas piedade do próprio estado de abandono. Perceberia o vento sem forças sequer para encrespar a maré pequena, oriunda de uma única gota de sangue esfomeado de vida devolvida gota a gota, átomo a átomo, ao grande incógnito vazio do Universo,o oxigenio que já não era necessário penetrar em seus pulmões ? O ar não se agita o mar permanece imóvel translúcido sem ondas, sem movimento, um grande lago sem vida, tanto vale a tumba quanto o regaço materno.

Não haverão de conhecer neste rosto pálido cerâmico os caminhos tortuosos esculpidos pela mão invisível e implacável do tempo.

Nada disto acontecerá nem a visão da felicidade alheia confortadora, nem a visão perturbadora da cólera alheia, nem a visão molhada de amores perdidos. Neste tumulo em que se transformara, ninguém se irrita, ninguém sorri, ninguém se mostra, o ódio não é permitido não é permitido sofrer além desta esperança desprovida de metas sem energia, este tédio sem fim.

O universo infalível da ostentação tecido no seu cérebro putrefava solitário nos seus sonhos dispersos, e estas luzes pálidas rotas que encharcavam úmidas e prateadas seu corpo abandonado nada revelavam ou distinguiam. Todo o resto eram ofensas emoções para este corpo nascido e morto da noite do destino.

Carlos Said

Outono 2009

Recanto das letras.

Carlos Said
Enviado por Carlos Said em 13/02/2009
Reeditado em 28/02/2013
Código do texto: T1438032
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.