Ganhei meu primeiro frasco de lança perfume quando tinha 7 anos. Era um inocente brinquedo que os franceses (via Rhodia) traziam para o Brasil. Um jato frio nas costas de alguém e o arrepio percorria o corpo todo. Era gostoso. Um tesão.

Nós, os moleques do prédio onde eu morava, formávamos um batalhão para disputar campeonato. Quem acertasse as melhores partes das moças acumulava pontos. A tabela era essa:

Braço: 1 ponto
Mão: 2 pontos
Perna: 3 pontos
Ventre: 4 pontos
Seio: 5 pontos
Bumbum: 10 pontos
Lá: 25 pontos
As penalidades:
Olho: -50 pontos
Rosto: -25 pontos


E os campeonatos eram diários. De domingo a terça de carnaval.
Não tínhamos a malícia de que lança perfume era estupefaciente ou um perigoso tóxico. Nós queríamos era a FARRA. Ganhar o campeonato era a meta. Cheirar? Nem pensar, o cheiro sempre ficava longe de nós, pois a cada jato, corríamos que nem loucos para não ouvir ou sentir a reação dos namorados ou maridos ou tico-tico no fubá. O alvo tinha que ser sempre as mulheres acompanhadas. Mulher sozinha não tinha a mínima graça e não contava ponto.
A brincadeira durou até 1961. Um que gostava de beber decretou que ninguém poderia brincar, muito menos cheirar. A gente pensou que seria o fim do mundo. Mal sabíamos que três anos depois a coisa ia ficar mais escura e acrescentando mais quatro a escuridão seria total e o perfume das masmorras iria dominar o pedaço. Mas isso é uma outra história, que não dá samba enredo, muito menos carnaval.

Roberto Bordin
Enviado por Roberto Bordin em 14/02/2009
Reeditado em 14/02/2009
Código do texto: T1438519