Fantasiado de diabinho

Passei minha infância no Rio de Janeiro.
Adorava Carnaval... Com nove anos, fiz minha grande aventura.
Dei uma escapada da saia materna e saí num bloco de carnaval pelas ruas de São Cristovão.
Fascinado, extasiado pelo ritmo, pelas lindas odaliscas, princesas, rainhas que se encantavam com o menino lourinho vestido de marinheiro brincando sozinho, nem percebi que do céu desabava um toró daqueles... a roupa encharcou de suor e de chuva. E eu, na minha inocência de marinheiro de primeira viagem pelo mar do carnaval - viagem solo, diga-se de pessagem - lá fui eu.. esquecido do tempo nos dois sentidos da palavra.
As paredes têm ouvidos? As ruas têm olhos... Alguma mãe, amiga da minha e minha inimiga foi correndo contar a novidade.
- "Está nascendo o mais novo passista da escola de samba: teu filho!"
21:30 - o horário que voltei qual filho pródigo, encharcado, mas feliz.
Minha mãe nada falou, apenas pediu que eu tirasse a roupa molhada.
Obediente, tirei e aí o couro - representado por um cinto paterno - cantou mas que puxador de samba na avenida.
Confesso que não chorei, apenas fiz um comentário sardônico:
- Pode bater, mãe, já me diverti mesmo...
Naquele Carnaval, saí fantasiado de marinheiro, fechei a tal da terça gorda com roupa de diabinho.

Roberto Bordin
Enviado por Roberto Bordin em 15/02/2009
Código do texto: T1440241
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