ACONTECEU, VIROU MANCHETE

Numa pequena cidade do interior, qualquer assunto vira notícia rapidamente. Tem certas coisas que não são convenientes, uma delas é falar demais, outra é fazer filhos demais.

Quando eu era criança, os casais tinham muitos filhos. Era a regra. Alguns amigos chegavam a ter dez irmãos, um que outro até mais. Vivia numa região de famílias pobres e de pouca formação cultural onde se dizia que a riqueza do pobre eram os filhos. Continuam sendo.

Uma avaliação matemática simples leva à conclusão de que investindo pouco num filho, colocando-o em escola pública e oferecendo acesso ao sistema de saúde pública, os pais têm com ele custos de duzentos reais por mês (muitos nem têm este valor mensal). Dezoito anos depois, o rebento consumiu um investimento familiar de quarenta e três mil e duzentos reais. E eu nem coloquei neste número o que poderia ganhar investindo o dinheiro, poderia perder no investimento.

A Maryinha nem tinha dezoito anos e havia deixado um casal de filhos para os pais cuidarem. “Bem feito para eles”, diziam as más línguas que nunca deixaram de falar da rédea solta com que os pais permitiam que a filha andasse largada de mão em mão. Para piorar, de famílias de poucos recursos, o Pedrinho e o Laurinho eram pouco mais que uns guris e já eram pais sem querer, não trabalhavam, nem ganhavam mesada, e botavam a culpa na irresponsabilidade da moça, “esta vadia, além de tudo”.

O tempo passou e ela, mais centrada, arrumou um companheiro aos vinte e dois, outro aos vinte e quatro e aos vinte e sete, jura que parou com a fila no Olegário, coisa que poucos acreditam, mamãe de mais um garotão bonito, o quinto, mania de fazer um por relacionamento.

Se Maryinha tinha certo gosto por variar de parceiro e fazer filho, o Paulão tinha o de falar demais e, o que é pior, de estar sempre dizendo alguma coisa “engraçadinha”.

Um pouco mais velho que a moça, soube de sua vida até uns dois anos antes do episódio que narro. Encontrou-a na rodoviária com o filho mais novo no colo, algumas pessoas por perto, sozinha segundo o que observou. Aproximou-se, como sempre, com ar sorridente de um velho conhecido e, como não poderia deixar de ser, foi logo observando, com algum espalhafato:

- Quem é o pai da vez?

Maryinha virou-se enquanto falava e um homem atrás dela, que estava de costas, girava o rosto em sua direção.

- Deixa te apresentar, meu marido ...