ASPECTOS DO SERTÃO NORDESTINO (1)

Quem não conhece o Sertão Nordestino, e por acaso o faz em época de verão, tem por certo uma péssima impressão desta região duramente castigada pelas secas.

A paisagem acinzentada, como que tostada pelo fogo, aparenta aos olhos do visitante um aspecto desolador. Não se vê uma folha verde sequer, a não ser no juazeiro, cuja resistência é tão grande que jamais perde suas folhagens.

Os rios e riachos secam totalmente, deixando em seus leitos secos, brancos tapetes de areia adomercida à espera de novas enxurradas.

Os pássaros e os pequenos animas de caça, refugiam-se automaticamente, só reaparecendo após as primeiras trovoadas. Há, entretanto, alguns pássaros que, não obstante a inclemência das secas, permanecem indiferentes a tudo e a todos.

Constantemente ao entardecer, de inverno a verão, escutamos o canto alegre do “casaca de couro”, cujo canto mais parece um “galope à beira mar”, pois são duas aves: uma canta e a outra responde em uma harmonia sem par. É um cântico realmente empolgante! Costumam sempre cantar à beira dos seus ninhos, como que festejando suas moradas, onde constituem suas ninhadas.

Existem ainda outros pássaros e diversos animais que não bebem água durante a estiagem, notadamente: codorniz, nambu, veado, mocó e muitos outros que, milagrosamente, atravessam esse duro período regional.

A paisagem triste e espantosa do Sertão Nordestino, comumente amedronta aos que não conhecem esse vasto pedaço da nossa terra sertaneja. Não acontecendo, todavia a nós, que aqui nascemos e aprendemos a sofrer e a resistir às hostilidades do clima. Não há metrópole que nos faça esquecer esta terra ressequida, pois, quanto mais sofremos, mas aguardamos resignados a chegada de melhores dias.

Para nos alegrar e nos tornar felizes, basta que a chuva caia com abundância em nossos campos, fazendo renascer tudo aquilo que parecia morto. Com a chegada do inverno, os campos se vestem de novas folhagens, tornando-se verdes e alegres, com seus barreiros cheios, rios e riachos a transbordar.

Os pássaros, como por encanto, infestam os tabuleiro revestidos de flores e frutos silvestres, com mais freqüência: o umbu, o juá, a quixaba e a fruta do famoso mandacaru.

Em várias partes da caatinga rasteira, encontramos regatos e minúsculas cachoeiras, que nesta época correm caatinga a fora, a festejar este período alegre da invernada. A paisagem que parecia queimada, torna-se um lençol verde e florido.

Em toda parte encontramos animais a pastar: caprinos e ovinos a escaramuçarem pelas veredas entrecortadas por regatos e lajedos, numa verdadeira demonstração de agradecimento à natureza.

Ao amanhecer, despertamos ao cantar do galo, que, como o telefone, transmite de um para outro a chegada de um novo dia. Ao lado da casa, comumente rústica, ouvimos o berro dos bezerros separados para a costumeira ordenha dos seus proprietários, em busca do mais precioso alimento do sertanejo: o leite – aliás, indispensável à vida de toda a humanidade.

Em todas as direções movimentam-se trabalhadores rurais de enxadas ao ombro para cultivar a terra fértil, carente apenas de água para produzir com abundância.

Se a lua é bela, maior ainda é a beleza do céu, constantemente mesclado de pedaços de nuvens brancas, mais das vezes circulado por um arco-íris, sugador do precioso líquido, das nuvens que enfeitam o firmamento nordestino.

Gastão Cerquinha
Enviado por Gastão Cerquinha em 23/04/2006
Código do texto: T144039