PERFUME DE GARDÊNIA
 
 
                               “Perfume de gardênia
                                                        Tem  em sua boca
                                                        E um lindo arco-íris
                                                        De luz em seu olhar...”
                                                                                              
                                                                      (de uma canção)
 
 
     Como era bom aquele tempo de outrora, quando nos meses de junho e julho se realizava a quermesse em louvor à padroeira Santa Ana.
 
     A população da cidade e também das cidades vizinhas compareciam aos festejos que se realizavam nas noites dos fins de semana.
 
     Uma belíssima barraca circular, de estilo exótico e de belas formas acomodava uma multidão de pessoas, que de suas mesas participavam do leilão de prendas, da alegria contagiante que imperava no recinto, em forma de correio-elegante, de música agradável, do ‘quimbol’ (uma espécie de bingo), e de outras diversões que muito alegravam a vida e encantavam a alma.
 
     “Uma cervejinhaaaa... bem geladinhaaaa....”, gritava “Tide” (Erotides Zanini) - o locutor do serviço de som, onde os apaixonados ofereciam música à suas amadas, como prova de muito amor.
 
     Garoto ainda, não via a hora de estar nesta quermesse, que tinha outras atrações, como o ‘Homem Misterioso’, uma figura com a cabeça encoberta e toda dissimulada, - um cidadão escolhido na cidade - e que para votar tinha que pagar tentando descobrir quem poderia ser,o que só seria desvendado no última dia de quermesse e a ‘Cadeia’, onde as mulheres eram as policiais que prendiam os homens, os quais só eram libertos mediante fiança,e mais e mais atrativos que nos enchiam de alegria e de prazer.
 
     Um pequeno conjunto animava a festa: Miguelzinho no trombone, Carlão Jacaré no pistão, Louzinho no pandeiro, Élio na guitarra, e muitas vezes, a presença de Sô Belmiro (trombone de vara), Maestro Romualdo (violino), Mobrice Marqueto no clarinete e outros, que de uma forma ou de outra, davam sua colaboração, abrilhantando os festejos.
 
     A nossa preocupação de menino não eram mais do que duas ou três: escrever correio elegante para as meninas, ganhar uma prenda no quimbol e muitas vezes, sair atrás do carro que levava o Homem Misterioso, para descobrir quem poderia ser a figura mascarada, e que, para isso, íamos de bicicleta, mas, eles de carro, nos despistavam facilmente e decepcionados e cansados voltávamos para a festa, sem poder descobrir quem era.
 
     A recompensa para quem descobrisse era muito boa: muitas vezes era em dinheiro e outras, em prêmios, como geladeira, rádio, e outros eletrodomésticos.
 
     Várias vezes a gente ia preso a mando das meninas e, sem dinheiro para pagar a soltura ficávamos lá, dentro daquela ‘cadeiazinha’, à vista de todos, envergonhados, e só sendo soltos, já no fim da festa, quando o movimento diminuía.
 
     E os correio-elegantes que a gente escrevia – muitas vezes com pseudônimo -  e de longe ficava observando a reação de quem o recebia... e ansiosamente ficava aguardando a resposta, com o coração a mil...
 
     Sem dúvida alguma, esses festejos marcaram minha infância e minha juventude e, hoje relembro com ternura e com saudade daqueles bons tempos, naquele mundinho encantado de Sant’Anna dos Olhos D’Água.

                 
Vinhedo, 12 de setembro de 2008.