TEMOR A DEUS.

"tudo nos é lícito, mas nem tudo nos convêm" . I Cor. 6.12

Quando se trata de artes manuais, ainda não descobri uma coisa que minha mãe não saiba fazer. Pintura em tecido, vidro, quadros? Ela faz. Crochê? Faz também. Artesanato com jornais? Moleza. Corte e costura? Nem se fale. A lista é grande e cansativa.

Eu, fugindo a regra, sei nadica de nada. Pois bem, tempos atrás resolvi aprender a fazer tricô. Orgulhosa por meu repentino interesse, minha mãe me ajudou a escolher a lã, as agulhas e o modelo do ponto. Pacientemente orientou-me na colocação dos pontos na agulha e dar início ao trabalho.

No começo achei uma delícia. Ao mesmo tempo em que via o futuro colete crescer na agulha enchia-me de satisfação. Admito que errei muito, refiz, recomecei, mas, em poucos dias já podia montar as duas partes do colete.

Com os resultados do primeiro trabalho, dei início a confecção de uma blusa de frio. Coloquei os pontos na agulha, escolhi cuidadosamente um outro modelo de ponto e fui em frente. Pensei que seria mais fácil já que me julgava uma “tricôteira” experiente. Que nada!

Parece que o segundo foi até mais complicado que o primeiro. Talvez me faltasse á mesma empolgação e cuidado, já que a comparação com o primeiro era inevitável.

Quando estava com a parte das costas pronta, minha mãe, com seus olhos de águia, percebeu que eu tinha perdido um ponto – traduzindo: deixei escapar um ponto da agulha – bem no canto do lado direito. E daí?

Teria duas opções: desmanchava até o erro e refazia ou deixava assim.

No caso da segunda opção, teria que mentir para mim mesma que não tinha visto e usaria a blusa, com defeito, com medo de que corresse o fio e danificasse a blusa.

Já me via sendo desmascarada em meio á multidão, dentro do metrô, por uma dessas gentis senhoras que possuem uma mala cheia de blusas feitas por elas mesmas.

- Desculpe, meu bem, mas tem um furo na sua blusa.

Optei em refazer. Ainda tenho essa blusa.

Até no tricô temos que fazer escolhas.

Escolher e renunciar não é fácil.

Assumir nossas opções, mantê-las e praticá-las também não o é.

Mas, ainda acho melhor recomeçar, voltar atrás, pedir perdão.

Isso requer disposição, mas no final é recompensador.

Tem coisas que gostamos de fazer e que, apesar de algumas vezes ser danoso a nós e ao próximo, nos dá prazer. Mas temos que ficar alertas.

Qual a vantagem em continuar fazendo isso?

Isso me fere? Machuca o outro?

O que estou fazendo nesse lugar?

Isso é prazer ou engano?

Transgridir me benificia em quê?

Fazer sacrificios é melhor que obedecer?

Estou amando e sendo amado ou é só sedução?

Se fizessem comigo, seria legal?

Depois de tudo isso estarei edificado ou apenas cansado?

Agrada a Deus?

Porque, mesmo que ninguém veja, tenha certeza, os “olhos de Deus são como chamas de fogo sobre você”.

Ele não irá te consumir, te castigar.

Mas ele será aquela velhinha no metrô que irá cutucar sua consciência e te lembrar que não dá pra fingir que não viu. Que não aconteceu.

Bom dia!

Etelvina de Oliveira
Enviado por Etelvina de Oliveira em 16/02/2009
Reeditado em 16/02/2009
Código do texto: T1441739
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