O OFÍCIO

Um dos ofícios do homem é comprimir bastante os olhos para ver se além do sono, o sonho não vem. E de hora em hora passassem as horas e o sono só lhe tira o sossego que a ansiedade não hesita em manifestar. O que pode fazer um coração que não dormita na espera e contam os segundos como os dedos da própria mão que acena ao longe?

A carta tem menos serventia do que as palavras ditas ao ouvido, de um amor que não tarda em chegar, mas que envelhece na espera do tempo que não vem. Ora o homem, cujo oficio era comprimir a boca na espera que o silencio fosse melhor que a palavra, não hesita em manifestar que o amor lhe bate o peito.

Queixa-se de saudade, do beijo que não fala a distancia e nem se alterna entre sossego e expiação. Calam os braços que dormem e os ouvidos que não cruzam para que o tempo não tarde chegar. Maltrata o homem o suspiro, cujo oficio era chamar pelo amor que não chega, pelo tempo que não passa e pela saudade que sufoca.

Quisera fechar os olhos como se fosse dormir e repousar num abraço que diz muito mais do que seria capaz de ler em letras escandalosamente felizes. Um dos ofícios do homem é amar errado por toda vida, olhar pra si mesmo e não ver nada e acertar na morte que nunca falha. Quisera morrer de amor com dignidade do que da saudade que lhe dilacera a alma em vida.

Um dia, não há de hesitar homem consorte daquilo que nunca viu: Um adeus que não tenha sido triste, um beijo que não tenha sido eterno e um abraço que não tenha sido doce. No mais prefiro um abraço que não tenha sido triste, o beijo que não tenha sido lento e um adeus que por pior que fosse. Deveras que já consiste de ter dado Deus um oficio ao homem, de ser amado por um amor que por pior que fosse, não lhe fosse o bem melhor que existe.

Joel Thrinidad
Enviado por Joel Thrinidad em 16/02/2009
Reeditado em 06/09/2013
Código do texto: T1442829
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