À procura de leitores

Ao preparar mais um programa semanal Universo Literário, para a Rádio UniFOA, deparei-me com a questão do hábito de leitura. Faço um programa que vai ao ar todas as quintas-feiras, em quatro horários ao longo do dia e, vamos combinar, pra quem? Temos problemas sérios relacionados à leitura no Brasil, portanto é quase impossível gerar interesse pelo tema.

Uma das informações que passei no último programa foi o alerta dado pelo ganhador do Prêmio Irmãos Grimm, o escritor Peter Hunt, durante o Congresso Internacional de Promoção da Leitura, que aconteceu na semana passada, em Lisboa. Segundo ele, nos últimos 40 anos, mudou muito a forma de se ler na Europa e nas Américas, “pois os livros infantis estão se tornando menos sutis, menos subjetivos e menos criativos”. Ou seja, estaria a própria produção literária deixando a desejar.

Para Hunt, essa mudança de estilo tem a ver tanto com o surgimento das novas tecnologias, que disputam a atenção dos pequenos leitores, como com a falta de tempo, o interesse menor pelos livros e, ainda, uma certa pressa causada pelos muitos afazeres da vida moderna. Este tema foi um dos que ganhou muita atenção de todos os participantes do encontro, na maioria especialistas convidados de Portugal, Espanha, Canadá, Suécia, França, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil.

Por outro lado, a obrigação dos governos de investir em leitura também foi tema quente no Congresso. Alguns dos principais especialistas nessa área insistiram que não dá pra criar sociedades desenvolvidas e mais justas se cada um não fizer sua parte. E governos, por sua vez, não fazem a parte que lhes cabe. Uma delas é colocar em prática políticas públicas que funcionem.

O raciocínio é simples, gente: claro que ninguém é obrigado a ler. Mas o Estado tem, sim, a obrigação de pelo menos garantir acesso à leitura, de formar agentes mediadores, de promover campanhas e garantir que escolas e bibliotecas façam a sua parte, enfim, de fomentar o gosto, o prazer, a delícia que é o hábito da leitura. Mas, num país onde se privilegia os filmes comercias das cervejarias para o horário nobre da TV, que vende outro tipo de prazer, como ensinar – isso mesmo, ensinar – para as pessoas que ler é bom? Tão bom quanto tomar uma cerveja geladinha ao sol?

Convivo com um monte de gente num Centro Universitário e esse assunto sempre vem à tona. Difícil, muito difícil mesmo, o cotidiano acadêmico com alunos que simplesmente não gostam de ler. Gente, como pode? Aliás, como conseguiu chegar a uma faculdade sem gostar de ler? O pior é que quando chega à graduação acha que pode continuar assim, de boa... Não dá.

É no mínimo complicado estudar, principalmente num curso superior, sem gostar de ler. O cara sempre acaba ficando num nível mediano, não avança. Simplesmente cumpre a tabela. E isso não é bom, né gente? Ser mediano num mundo competitivo como o de hoje é ficar parado vendo a vida passar. Todo mundo vai e você fica.

E aí... quer ficar?

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 19/02/2009
Código do texto: T1447272
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.