A chatice do piii

- Pi-pi-pi-pi

- Oi!

- Piii

- Amor, sou eu, você tá onde?

- Piii

- Oi querido, tô no restaurante. Vou almoçar rapidinho e já chego aí. Pegou as crianças?

- Piii

- Claro que peguei. Você acha que ia esquecer as crianças? Tô te esperando.

- Piii

- Do jeito que você é desligado, poderia bem mesmo esquecer meus filhos na escola.

- Piii

- Seus filhos também são meus filhos!

- Piii

- Ah! Vê se não atrapalha meu almoço.

- Piii

- Foi você quem pediu pra ligar pra avisar que as crianças já estavam comigo, m.

- Piii

- Vá a m. você!!

- Piii

Esta é a reprodução quase na íntegra de uma conversa ouvida recentemente em um restaurante. É uma cena que se torna cada vez mais comum, desde que uma extensa faixa da população resolveu aderir àquele aparelho de celular que também é rádio e que por isso faz piii nos nossos ouvidos, sempre seguido de uma conversa no odioso modo “viva voz”, e normalmente aos brados. Você, que está acompanhado e batendo um papo super agradável, se estiver muito perto, é praticamente obrigado a silenciar, até que a criatura ao lado ligue o desconfiômetro. E raramente acontece.

Porque será que todos os que possuem esse aparelhinho enjoado pensam que devem gritar? Quem está escutando a conversa, sem ser perguntado se está a fim, se sente ao lado de um megafone. Isso em qualquer lugar, seja no restaurante, no elevador, no ônibus, na fila do banco e até no banheiro. O aparelhinho se diz moderno, mas faz a maioria de seus usuários esquecer as regras da boa educação pelo simples prazer de se exibir com o tal pi-pi-pi-pi.

E como essas conversas duram, né gente? Dia desses um amigo meu me contou sobre um cara que foi de Volta Redonda ao Rio, numa viagem de ônibus – cerca de duas horas – falando abertamente no seu aparelho que faz piii. “Deu vontade de levantar, tomar aquela porcaria da mão dele e jogar pela janela”. Total falta de noção do próprio perímetro. O que deveria ser uma ferramenta, um serviço para agilizar o dia-a-dia de muitos profissionais, acabou virando motivo de cara feia e narizes torcidos por todos os cantos, porque é impossível não notar alguém aos berros nos malditos radinhos.

Para quem não sabe, o aparelho oferece a função “normal”, na qual pode-se usá-lo como um telefone celular comum, mas vejo que muitos de seus usuários acham que dá status mostrar pra todo o mundo que possuem um aparelhinho que faz piii. E isso é muito imbecil, pois o que atrai clientes para o serviço desta operadora é justamente a tarifa mais barata. Portanto, para os que se dizem chiques, melhor mesmo é esconder o pi-pi-pi-pi. Nós, pobres usuários de simples celulares, agradecemos.

Infelizmente, esse é um dos comportamentos gerados pela modernização (?) das relações, que agora se utilizam das tecnologias para se comunicar com maior rapidez. E as pessoas, em geral, não estão preparadas. Atendem ao celular quando estão conversando com alguém (custa retornar depois?). Ninguém desliga o telefone quando está numa reunião, no cinema, no teatro, numa palestra. No escritório, o cara levanta para ir ao banheiro e, logo, o aparelho começa a tocar Beijar na Boca, da Cláudia Leite, para toda a sala ouvir, e o cara demooora. Você está conversando com um amigo e de repente ele saca o celular do bolso e começa a teclar um torpedo, sem lhe pedir licença, assim mesmo, na cara de pau, e você ali, com cara de “tudo bem, eu espero”. E ainda tem o usuário do aparelhinho que faz piii, que além de mal educado e inconveniente, pensa que é importante, só porque tem um aparelhinho que faz piii. Fala sério!

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 19/02/2009
Código do texto: T1447309
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