DEPOIS
DEPOIS...
Depois eu faço...
Depois eu decido...
Depois eu dou um jeito...
É depois pra lá, pra cá, em todo o lugar.
Um depois me faz refletir nos muitos depois ouvidos ou dados na vida.
Coisa mais limitante este depois. Oferecer ao futuro, ao amanhã com todas as suas incertezas, a responsabilidade de solucionar algo.
Um depois traz consigo a inércia de não se resolver no agora o que se pode, e ficar na expectativa, diante do que se deveria fazer, mas não se faz.
Um depois, assim dito, sem pensar, soa como uma justificativa malograda de não envolvimento, de descaso com a necessidade de quem conta comigo.
Um depois não tem valor, porque o minuto seguinte ainda não me pertence e eu não posso dispor sobre ele.
O depois é um muro coberto de musgos, intransponível a desafiar-me repetido-se eternamente:
-Depois... depois.... depois...
Eco cruel e insano a que o homem, desprevenido, insiste em repetir como se fosse ladainha em dia dos finados.
-Depois... depois... depois...
Mas o depois não acontece, vira fumaça, se perde no vai e vem das horas, minutos e segundos desperdiçados.
Enquanto isso...
Não escrevemos. Não realizamos. Não viajamos. Não estudamos...
Depois, sim., tudo será feito. O livro escrito, o trabalho realizado, a viagem e o estudo também...
Grande ironia! Pobres sonhadores!
O depois não nos alcança... tem asas, voa no comboio do tempo e arrasta consigo o destino cruel de quem fornece ao depois a responsabilidade do presente.
O depois é um caixão que enterra sonhos e ressuscita arrependimentos...
Eternos e inúteis.