DEPOIS

DEPOIS...

Depois eu faço...

Depois eu decido...

Depois eu dou um jeito...

É depois pra lá, pra cá, em todo o lugar.

Um depois me faz refletir nos muitos depois ouvidos ou dados na vida.

Coisa mais limitante este depois. Oferecer ao futuro, ao amanhã com todas as suas incertezas, a responsabilidade de solucionar algo.

Um depois traz consigo a inércia de não se resolver no agora o que se pode, e ficar na expectativa, diante do que se deveria fazer, mas não se faz.

Um depois, assim dito, sem pensar, soa como uma justificativa malograda de não envolvimento, de descaso com a necessidade de quem conta comigo.

Um depois não tem valor, porque o minuto seguinte ainda não me pertence e eu não posso dispor sobre ele.

O depois é um muro coberto de musgos, intransponível a desafiar-me repetido-se eternamente:

-Depois... depois.... depois...

Eco cruel e insano a que o homem, desprevenido, insiste em repetir como se fosse ladainha em dia dos finados.

-Depois... depois... depois...

Mas o depois não acontece, vira fumaça, se perde no vai e vem das horas, minutos e segundos desperdiçados.

Enquanto isso...

Não escrevemos. Não realizamos. Não viajamos. Não estudamos...

Depois, sim., tudo será feito. O livro escrito, o trabalho realizado, a viagem e o estudo também...

Grande ironia! Pobres sonhadores!

O depois não nos alcança... tem asas, voa no comboio do tempo e arrasta consigo o destino cruel de quem fornece ao depois a responsabilidade do presente.

O depois é um caixão que enterra sonhos e ressuscita arrependimentos...

Eternos e inúteis.

Malu Scottini Heiden
Enviado por Malu Scottini Heiden em 25/04/2006
Código do texto: T144984